O inquérito instaurado pela Polícia Federal para apurar a conduta adotada pelo presidente Jair Bolsonaro em sua live de 29 de julho de 2019, na qual ele fez uma série de acusações ao sistema eleitoral brasileiro, usando argumentos fantasiosos e mentirosos, mostrou que o mandatário utilizou a estrutura do Estado, por meio da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), para produzir um dossiê contendo várias de sandices que tinham como finalidade desacreditar a lisura do processo de eleição no país.
A investigação, que é relatada pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), mostrou que dois generais tiveram envolvimento no episódio do “levantamento de informações” solicitado à Abin: Augusto Heleno, chefe do GSI (Gabinete de Segurança Institucional) e superior direto dos arapongas da agência, e Luiz Eduardo Ramos, que era ministro-chefe da Secretaria de Governo à época.
Entre os argumentos tolos e simplistas usados por Bolsonaro em seus questionamentos sobre o sistema eleitoral, uma planilha com votos foi elaborada por um técnico de informática chamado Marcelo Abrieli. Com a instauração do inquérito pela PF, por ordem do STF, Abrieli foi chamado para depor e confirmou que o convite para se reunir com Bolsonaro e apresentar sua tese mal-ajambrada foi feito pelo general Ramos.
"No final de 2019, o general Ramos entrou em contato, por telefone, com o declarante para agendar uma reunião no Palácio do Planalto com o presidente Bolsonaro. Que a reunião teria como tema indícios de fraude nas urnas eletrônicas e que o declarante falaria sobre as informações descobertas em 2014 sobre as eleições", lê-se no depoimento de Abrieli no inquérito que apura o caso.
No caso da Abin e do general Heleno, a verdade sobre a participação deles veio à tona após o depoimento de um especialista em crimes na internet chamado Ivo Peixinho. Ele confirmou aos federais que Heleno e sua agência de espionagem o encaminharam uma “consulta” sobre a possibilidade de frauda nas urnas eletrônicas. Quem tomou a frente nos contatos foi o chefe da Abin, o delegado da PF Alexandre Ramagem, que ganhou relevância no governo federal por ser amigo dos filhos do presidente.