Fiador do golpe de 2016 ao lado de Eduardo Villas Bôas, o general Sérgio Etchegoyen, que foi alçado a ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) no governo de Michel Temer (MDB) após a derrubada de Dilma Rousseff (PT), criticou a declaração do ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF), de que as Forças Armadas têm sido "orientadas" a atacar o processo eleitoral - rebatida em nota pelo ministro da Defesa, o também general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira.
Em entrevista à Rádio Gaúcha (ouça abaixo), o general da reserva ironizou a fala de Barroso, dizendo que é "mais um pecado de um juiz apaixonado por microfones" e atacou o Judiciário que, segundo ele, seria a "fonte de instabilidade", tirando a responsabilidade de Jair Bolsonaro (PL).
"Acho que o presidente não coopera para a pacificação, mas o Judiciário tem se tornado uma constante fonte de instabilidade. É muito sério uma autoridade desse nível ter essa paixão por microfone", afirmou o militar.
Etchegoyen ainda afirmou que a declaração de Barroso tinha clara intenção de atingir Bolsonaro.
"Na comunidade internacional nós ficamos mal, mas a suspeita cabe aqui dentro. O ministro do STF é um cidadão e no seu exercício de cidadania ele vai entrar na cabine eleitoral e apertar os números que a sua consciência lhe sugerir. Mas ele não pode declarar. Ele não pode sugerir, ele não pode dar a entender, porque senão ele perde a imparcialidade, ele puxa para ele a suspeição. Se ele tem um número que desde já ele rejeita da forma como está rejeitada implicitamente - e eu não tenho dúvida para quem está dirigida essa crítica -, ele se assume como parte publicamente. Isso é descabido", afirma.
Articulador do golpe de 2016, o general diz que a declaração de Barroso é parte de "um esforço enorme em desconstruir a democracia" que se faz em um "universo paralelo" de que o Brasil é um "país fascista".
"É um esforço enorme de se desconstruir uma democracia que foi construída com tanta dificuldade, com tanta experimentação, com tantos erros e acertos, com tanto esforço, com tanto sacrifício", disse ele, emendando que "criou-se um universo paralelo em que o Brasil é um país fascista, que não tem liberdade de imprensa e não tem judiciário independente. [...] Isso se cria, esse discurso se faz e quem faz esse discurso e reforça esse discurso é um ministro da Suprema Corte".