GOVERNO DA HONESTIDADE

Esquemão dos robôs: TCU suspende kits de R$ 35 milhões fornecidos por amigo de Lira

As obscuras emendas do relator defendidas pelo presidente da Câmara, que segue em silêncio em relação ao autoritarismo de Bolsonaro, pagariam fortunas por bugigangas destinadas a escolas de pequenas cidades de Alagoas

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Parece que os robôs que interessam ao governo extremista de Jair Bolsonaro e aos seus aliados não são apenas os perfis fakes que interagem e aplaudem o presidente nas redes sociais. O Tribunal de Contas da União (TCU) determinou nesta segunda-feira (25) que o Palácio do Planalto suspenda o repasse de R$ 35 milhões destinados à aquisição de kits de robótica para escolas de pequenos municípios pobres e sem qualquer infraestrutura dos estados de Alagoas e de Pernambuco.

O motivo para o bloqueio nos pagamentos é bem simples. O dono da empresa que vende as caixas com pecinhas para montar robôs destinadas a instituições de ensino que sequer têm internet (e algumas não têm descarga nos vasos sanitários dos banheiros) é pai de um amigo do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL). O dinheiro é oriundo das obscuras e famigeradas emendas do relator, defendidas com unhas e dentes pelo próprio Lira, e o material está superfaturado, com preços muito acima dos de mercado e até de concorrentes importados, em algumas situações 420% mais caros.

Edmundo Catunda, dono da empresa Megalic, que fornece os kits de robótica e tem sede em Maceió (AL), é pai do vereador João Catunda (PP), da capital alagoana, notório amigo íntimo de Lira, o homem que como presidente da Câmara Federal simplesmente ignora todas as estrepolias autoritárias de Jair Bolsonaro e segue apoiando seus desmandos.

A história se torna ainda mais absurda quando a verba destinada aos tais kits de montar robôs é comparada com outros gastos. As emendas destinadas para construção de creches em Alagoas, por exemplo, foram de R$ 30 milhões, inferiores ao aporte para compra das caixinhas fornecidas pelo amigo de Lira. A destinação dos recursos é efetivada pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE).

Os oito municípios “contemplados” com os kits (União dos Palmares, Canapi, Santana do Mundaú, Branquinha, Barra de Santo Antônio, Maravilha, Flexeiras e Joaquim Gomes) enfrentam precariedade em várias áreas. Em alguns deles não há sequer água encanada, nem nos banheiros. Há escolas que receberam kits, também em situação precária, em três cidades de Pernambuco, todas governadas por aliados do deputado federal mais poderoso de Brasília.

O que chama a atenção, igualmente, é a velocidade com que o dinheiro é liberado pelo governo Bolsonaro aos parceiros de Lira, que não abre um só processo de impeachment contra o presidente, dos centenas que já chegaram à sua mesa. Em poucas semanas, ou meses, os valores são transferidos para as prefeituras, que então realizam o negócio com a Megalic. Em contrapartida, o FNDE trava a liberação de recursos para administrações municipais das cinco regiões do Brasil, deixando de repassar aproximadamente R$ 434 milhões. Em muitos casos, como na cidade de Umuarama (PR), que sofre com um grave déficit de vagas para crianças de até três anos, há escolas com obras paralisadassete anos.