Em entrevista ao Fórum Onze e Meia desta sexta-feira (1), data em que o golpe militar completa 58 anos, a ex-ministra da Secretaria Especial das Mulheres do governo da ex-presidenta Dilma Rousseff (2010-16), Eleonora Menicucci, analisou o quadro eleitoral e disse que é preciso tirar o salto alto de uma vitória certa do ex-presidente Lula. Militante da lutar armada contra o regime militar no Brasil, Menicucci diz que o presidente Bolsonaro, é "uma criação do Ustra", em referência ao militar Carlos Brilhante Ustra, que foi chefe do DOI-CODI e notório torturador.
"O salto alto tem que ser retirado e andar de descalço, não é de sandália, é descalço. Eu não acredito que a eleição está ganha. Nós fizemos um encontro com o Marcos Coimbra onde, a partir da análise de várias pesquisas, ele levantou três questões. Primeiro: nunca existiu na história da República brasileira um candidato tão favorito por tanto tempo. Ele [Lula] é desde 2010.
“A estabilidade desse favorecimento gira em torno dos 40% que ele tem e o Bolsonaro gira em torno de 30 e 32%. Mas, tem um terceiro fator que ele [Coimbra] chama de incerteza e quais são as incertezas que ele aponta? a incerteza do governo atual, a incerteza dos militares, a incerteza da mídia global e a incerteza do mercado. Isso tudo junto pode criar uma situação que impeça de ter a eleição ou que impeça de o Lula ganhar", analisa Eleonora, que é formada em Ciências Sociais e professora titular de Saúde Coletiva na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Militante da Política Operária (Polop), Menicucci participou da luta armada no Brasil. Ao ser presa pelo regime militar, foi encaminhada ao presídio Tiradentes, onde submetida a sessões de tortura. Menicucci e Dilma Rousseff compartilharam cela na referida prisão.
Para Menicucci, o fato de o governo Bolsonaro soltar notas de exaltação à Ditadura Militar é algo muito grave e que deve combatido diariamente. "A nota [emitida nesta quinta-feira] é muito perigosa. A nota, além de exaltar a Ditadura Civil e Militar, ela só diz inverdades, mas tem algumas ali que merecem repúdio: que o golpe e os militares não prenderam, não torturaram, não mataram, não fecharam o Congresso, que o fechamento do Congresso foi em função de uma estabilidade. São mentiras que nós temos que desmentir de manhã, de tarde e de noite", disse Eleonora.
Eleonora Menicucci falou sobre ações que são necessárias para se barrar as narrativas que falseiam a história e defendem a Ditadura Militar. "Temos que estar de manhã, de tarde e de noite dizendo Ditadura nunca mais, assassinatos nunca mais... Porque a tortura continua, fundamentalmente contra a população negra e jovem. O que nós não fizemos, para mim é claro: nós deixamos na impunidade os torturadores, nós não punimos, não levamos os torturadores aos tribunais”, critica.
Ao comparar o Brasil com Uruguai, Chile e Argentina, que levaram a julgamento militares dos respectivos regimes ditatoriais, Eleonora faz uma crítica a maneira como se deu a Lei da Anistia. "A Lei da Anistia veio de cima para baixo, foram os militares e a extrema direita que a determinaram. Essa é uma questão básica: se nós não tocarmos nessa ferida o Ustra ficará sendo permanentemente o guru da direita. Que ele seja o guru de uma parcela das Forças Armadas, é problema deles. O Bolsonaro é filho, criado pelo Ustra. Mas, a sociedade não pode ter o Ustra como um ícone e parcela dela, infelizmente, tem. Lamento dizer isso", critica Eleonora Menicucci.
Confira abaixo a entrevista na íntegra: