O deputado federal Ivan Valente (PSOL-SP) reagiu à ameaça de processo judicial feita pelo Movimento Brasil Livre (MBL), o grupo de direita que ficou conhecido por liderar manifestações em prol do golpe contra Dilma Rousseff (PT). “Não vão nos intimidar", disse o parlamentar à Fórum.
Nesta segunda-feira (14), o MBL anunciou que acionará a Justiça contra Valente e outras 16 pessoas que acusaram um dos líderes do grupo, o deputado federal Kim Kataguiri (DEM-SP), de apologia ao nazismo.
Em participação recente no Flow Podcast, Kataguiri endossou o apresentador Monark, que foi afastado do programa após defender a legalização de um partido nazista no Brasil. O deputado do DEM afirmou, na ocasião, que a Alemanha “errou” ao criminalizar o nazismo. Por conta da fala, o líder do MBL se tornou alvo de investigação por parte da Procuradoria-Geral da República.
O grupo de direita, no entanto, afirma que Kataguiri foi alvo de calúnia e difamação e, por isso, acionará a Justiça contra quem o associou ao nazismo. Entre os alvos está Ivan Valente.
“Eles não vão nos intimidar. De forma nenhuma. Lutei 21 anos contra a ditadura e contra o fascismo, não é o Kim Kataguiri ou o MBL que vai me ameaçar. Um bando que não conhece nem a história”, declarou Valente à Fórum.
Para o parlamentar, a fala de Kim Kataguiri no Flow Podcast é “muito grave” e, segundo ele, defender a não criminalização de um partido nazista “significa, na verdade, compactuar com crimes”.
“Além de estupidez e ignorância, é não conhecer a própria história. Isso sem dúvidas caracteriza uma apologia, em nome da liberdade de expressão, o que é muito grave”, avaliou Ivan Valente.
Além do deputado do PSOL, estão na lista dos que serão processados pelo MBL o ex-deputado federal e professor Jean Wyllys, a filósofa Márcia Tiburi, o historiador Jones Manoel, o jornalista Palmério Dória, o youtuber Henry Bugalho, o professor Sergio Amadeu e os perfis de Twitter @bolsoregrets, @jornalismowando, @thiagoresiste (Thiago Brasil), @marcelloneves72 (Marcello Neves), @conservadora191 (Rosa Conservadora), @vedaytos (Veronica), @srivotril (Senhora Rivotril), @flaviamaynarte, @dilmaetaon e @brazilfight (FamíliaDireitaBrasil).
Jean Wyllys também reagiu à ameaça de processo e reafirmou suas palavras em relação a Kataguiri. "Vamos, MBL. Sobrevivi à violência que vocês me infligiram. Estou inteiro. E não é seu assédio jurídico nem lawfare que vão me impedir de dizer que quem defende a existência de partido nazista É NAZISTA! Deputado que diz que a Alemanha errou ao criminalizar o nazismo é nazista", disparou.
Márcia Tiburi, por sua vez, questionou: “Qual o problema do argumento de Kim Kataguiri em relação à defesa do nazismo? Há uma falta de compreensão lógica relacionada às premissas e conclusões do próprio raciocínio. Ninguém pode não defender algo que está a defender. Ou é burrice ou é astúcia. Qual será a do deputado?”
“Kim Kataguiri é um agitador nazifascista conhecido. O MBL usa a agitação como tática desde o processo do Golpe até a eleição de Bolsonaro. Eles queriam cargos de poder. As perseguições a intelectuais e artistas em 2017 e 18 foram operadas por eles como forma de autopromoção”, prosseguiu a filósofa.
Investigação na PGR
Não foi apenas o apresentador Monark, do Flow Podcast, que teve problemas com a Justiça por ter dado declarações em favor do nazismo na edição do programa de 7 de fevereiro. Outro participante da mesa, o deputado federal Kim Kataguiri (DEM-SP), aliado do presidenciável Sergio Moro, será investigado pela Procuradoria-Geral da República (PGR), por ter dito durante a entrevista que “a Alemanha errou ao criminalizar o partido nazista”.
A determinação para que o parlamentar seja investigado pelo crime de apologia ao nazismo foi dada pelo procurador-geral da República Augusto Aras, que será assessorado por especialistas criminais da PGR. Há poucos dias Aras disse em seu discurso na abertura do ano legislativo no Congresso que “todo discurso de ódio deve ser rejeitado com a deflagração permanente de campanhas de respeito a diversidade como fazemos no Ministério Público brasileiro para que a tolerância gere paz e afaste a violência do cotidiano”.
Bruno Aiub, o Monark, também será investigado pela PGR, ainda que outras instâncias do Ministério Público também o estejam fazendo. No caso de Kataguiri, por ser deputado federal e ter foro privilegiado (apenas o Supremo Tribunal Federal pode julgá-lo), a ação de investigá-lo só pode ser realizada por Aras.
Numa tentativa de recuar diante do problema que arranjou por ter endossado as palavras de Monark, Kataguiri emitiu uma nota oficial na última semana, por meio de seu gabinete em Brasília, dizendo que é “muito melhor expor a crueldade dessa ideologia nefasta para que todos vejam o quanto ela é absurda”, ainda que não tenha ficado claro em que nível essa justificativa atenua sua primeira declaração.