"O PL do Veneno é a necropolítica de verdade", diz Carlos Minc

O ex-ministro do Meio Ambiente também destaca o fato de que combater pragas com veneno não resolve o problema e que estas substâncias só servem para causar doenças nas pessoas

Foto: Fórum
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Em entrevista ao Fórum Onze e Meia desta quinta-feira (9), o ex-ministro do Meio Ambiente e deputado estadual pelo Rio de Janeiro, Carlos Minc (PSB), comentou a aprovação do “PL do Veneno” (PL 6299/02) nesta quarta-feira (9) a qual classificou como “inacreditável” e que o Brasil está virando “lata de lixo de veneno químico. Minc também revelou que o Fórum dos ex-ministros do Meio Ambiente já articula para barrar a proposta no Senado.

"Nós, que somos do Fórum de ex-ministros do Meio Ambiente, já estamos de olho no Senado para barrar lá. O presidente da Comissão de Meio Ambiente do Senador é o nosso camarada senador Jacques Wagner (PT-BA), futuro governador da Bahia. Agora, o que foi aprovado é inacreditável. Primeiro: tiram do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais) e da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) a análise dos agrotóxicos que, aliás, não vão mais chamar de agrotóxico, iam chamar de defensivos, agora vão chamar de pesticidas… bom, é uma peste mesmo. Fica só o Ministério da Agricultura, que vai aprovar tudo. Depois eles autorizam a importar até princípios ativos que sejam comprovadamente cancerígenos, desde que seja só um pouquinho cancerígeno”, critica Carlos Minc.

O ex-ministro lembra de sua passagem pelo governo Lula e de como os agentes do Ibama eram alvos de assédios para assinarem o banimento de agrotóxicos. “Quando eu estive no Ministério com o Lula, de 2008 a 2010, o ministro da Saúde era o Temporão, da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), bravo José Gomes Temporão. Nós, em conjunto, conseguimos banir 19 princípios ativos de agrotóxico. Foi uma guerra banir um por um. Eles iam em cima dos analistas do Ibama e do Ministério do Meio Ambiente entravam com ação de lucro cessante de cada analista para não assinar que aquele princípio ativo podia causar problema na saúde dos agricultores, contaminar o lençol freático e fazer o que fazem: garantir a nossa diária de veneno no alface e no tomate de todos os dias”, revela Minc.

Para Carlos Minc, que é um militante histórico em defesa das florestas e recursos naturais, é escandaloso o fato de o governo Bolsonaro ter liberado mais de mil agrotóxico em três anos. “O Bolsonaro licenciou 1500 em três anos, mais de um por dia. Desses 1500, proximamente a metade já proibida na Europa ou tem fortíssimas restrições. Ou seja, nós estamos virando a lata de lixo de veneno químico. Eles estão vendendo para a gente aquilo que eles não podem consumir lá, porque lá os cientistas demonstraram que aqueles princípios ativos são mutagênicos e carcinogênicos, ou seja causam mutação genética e câncer”, afirma.

Outra questão que Minc levanta é o fato de que as pragas são o resultado do desequilíbrio ambiental provocado por ações humanas e que os agrotóxicos não a solução para tal problema.

“A nossa poderosa e vigorosa Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), ela tem o controle biológico das principais pragas… como se dá o combate biológico: você pega um besouro para pegar a lagarta na soja e assim sucessivamente. E na verdade, uma praga não é o destino, é um desequilíbrio: você faz desmatamento, monocultura, seca o solo. você faz um monte de coisa e aí com esses desequilíbrios você acaba com algumas espécies, essas espécies eram predadoras de outros insetos. Quando elas são extintas, esses insetos crescem em população, viram pragas e dá-lhe veneno cada vez mais forte”, explica Minc.

A proliferação de agrotóxicos, avalia Minc, resulta em uma política de morte. “E cada vez tem que ter um [agrotóxico] mais forte e mais caro, o agricultor se endivida e nos intoxica. A solução boa, já que isso é um desequilíbrio, é buscar novos pontos de equilíbrio, o que significa: policultura, adubação verde, agricultura orgânica, integração agricultura, pecuária e floresta, e a gente sabe fazer isso tudo e essa turma quer importar veneno cada vez mais forte… não querem que a Anvisa e o Ibama falem sobre o assunto. Isso que é necropolítica de verdade”, alerta Minc.

Confira abaixo a entrevista na íntegra:

https://www.youtube.com/watch?v=OM1uRx3KYOo