Nas últimas semanas, o silêncio de Jair Bolsonaro (PL) e o evidente abatimento emocional do futuro ex-presidente já vinham causando preocupação em aliados. Nesta segunda-feira (5), o ainda mandatário, que está calado há mais de um mês, chegou a cair no choro durante uma cerimônia das Forças Armadas.
Levantamento DataFórum desta terça-feira (6) revela que o choro de Bolsonaro provocou tese delirante entre seus apoiadores: os bolsonaristas acreditam que o gesto tenha sido uma "senha" para um possível golpe de Estado.
As lágrimas, no entanto, se deram exatamente pelo contrário. Segundo militares, que falaram em anonimato à jornalista Andréia Sadi, da GloboNews, o presidente chorou por não ter identificado, no evento das Forças Armadas, nenhuma sinalização de apoio para uma aventura golpista. Bolsonaro ainda tinha esperanças de que encontraria, entre os militares, algum tipo de endosso para tentar questionar o resultado das urnas ou tumultuar a posse do presidente eleito Lula (PT), marcada para 1º de janeiro.
"A ficha caiu", disse um interlocutor que estava presente no evento. “Bolsonaro está diferente dele mesmo. Não interagiu, não brincou. Não me lembro nos últimos quatro anos de vê-lo introspectivo assim", afirmou outro.
"Caso médico"
O abatimento emocional de Bolsonaro ficou evidente, por exemplo, em outro evento militar em que esteve presente. Na última quinta-feira (1) ele participou de uma cerimônia de promoção de oficiais do Exército em Brasília e, o que se viu, foi um presidente em fim de mandato com expressão fechada, claramente incomodado.
Apesar de ter sido fechada à imprensa, a cerimônia foi transmitida pela TV Brasil e, durante cerca de 1 hora de evento, Bolsonaro permaneceu em silêncio e, muitas vezes, foi flagrado olhando "para o nada". O evento, nas redes sociais, foi comparado a um velório.
Ao jornalista Chico Alves, do portal UOL, aliados e pessoas próximas confirmaram que a situação do futuro ex-presidente não é nada boa. "Ele acreditava que haveria alguma mudança no quadro político, por conta das manifestações à porta dos quartéis e nas rodovias, mas acho que percebeu que não tem jeito", disse um amigo de Bolsonaro que esteve com ele em outra cerimônia militar recente, na Academia Militar das Agulhas Negras (Aman), em Resende (RJ), ocasião em que o mandatário também ficou em silêncio.
Segundo um outro aliado, Bolsonaro, que já estava emocionalmente desestabilizado, teria ficado ainda mais apático após a notícia de que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) antecipou a diplomação de Lula - o que deixa o petista apto para iniciar o mandato - para 12 de dezembro.
"À medida que a mudança de governo se aproxima, ele nota que a situação é irreversível. A tristeza dele é preocupante, talvez seja caso médico", revelou o interlocutor.