Quarta-feira, 28 de dezembro de 2022. Faltando três dias para encerrar seu caótico e perturbador mandato de quatro anos e após uma derrota nas urnas para aquele que julga ser o seu “inimigo mortal”, Jair Bolsonaro (PL) embarcará para os EUA. Seu destino, dizem as fontes oficiais, é a cidade Orlando, na Flórida, para que de lá vá se juntar com o ex-presidente dos EUA, também derrotado nas urnas por sua postura abjeta, Donald Trump.
Não é segredo para ninguém que Bolsonaro passará por dias muito complicados a partir de 1° de janeiro de 2023. Após uma interminável lista de crimes cometidos durante seus quatro anos de “governo”, assim como por parte de seus aliados mais próximos, além da pecha de “genocida” que se espalhou por todo o Brasil e pelo mundo, absolutamente explicável diante da postura dantesca e inacreditável de mandar os brasileiros para a morte na pandemia, discursar abertamente contra as vacinas e dificultar a compra delas e de fazer piadas e rir de gente que perdeu a vida para o vírus, o quase ex-presidente, de fato, tem com o que se preocupar.
Para piorar tudo em seu futuro próximo, Bolsonaro pregou um golpismo aberto e nutriu seus seguidores mais extremistas com um ódio dilacerante, o que desaguou em atos de terrorismo que amedrontam a sociedade brasileira. Chegando a esse ponto, o radical de extrema direita que tentou implantar uma ditadura no país sabe que sua presença aqui sem a faixa (leia-se sem o foro privilegiado e sem a estrutura do Estado, que ele usou como um monarca absoluto) será uma questão de dias para que o caldo comece a entornar.
Não se sabe ao certo de onde veio a ideia de abandonar o país a 72 horas da posse do novo governo. Que ele não participaria da cerimônia para pôr a faixa no peito de Lula, todos já tinham sido avisados. Mas de repente surge a notícia de que ele embarcará, usando o avião presidencial, para os EUA. Ele ficará lá hospedado como convidado no resort de Donald Trump, para passar a hora da virada do ano e da festa do petista na rampa do Palácio do Planalto na companhia de seu guru, que também perdeu a eleição, questionou o resultado, insuflou seus radicais a praticar terrorismo e agora vive a falar imbecilidades para essa franja de aloprados. O brasileiro é quase um cosplay político do norte-americano. Só que Bolsonaro desistiu e mandou avisar que ficará num condomínio de brasileiros na rica zona turística do sul dos EUA, sentindo o calor e o afeto dos golpistas encastelados na terra do Tio Sam.
Uma fuga de Bolsonaro após o fim do mandato é cogitada há muito tempo. No entanto, muitos analistas, talvez levando em consideração o histórico de outros líderes fujões pelo mundo, pensaram que o brasileiro esperaria a passagem da faixa para, então, sair subitamente. No entanto, se uma escapada ocorrer, será no modelo Alberto Fujimori, o ditador peruano que em 2000 embarcou num voo presidencial para o Brunei, para um compromisso oficial, e de lá foi para o Japão, de onde mandou um abraço e abandonou o cargo para se livrar da cadeia. Demorou um pouco, na verdade sete anos, mas ele acabou sendo mandado de volta para Lima, após se instalar no Chile e ficar por lá 22 meses, de onde foi extraditado, para ser julgado.
Isso tudo não indica que Bolsonaro não voltará por vontade própria ao Brasil após alguns dias. Há quem veja na ida de seu filho Carlos, o mais reacionário e tresloucado do clã, para o mesmo destino (ele embarcou no Natal para Atlanta, também nos EUA) uma espécie de “deserção” (já que a família gosta tanto de jargões da caserna). Por outro lado, o fato de Michelle ficar no Brasil seria um indicativo de que não há fuga alguma.
O jornalista Jamil Chade, do UOL, produziu uma reportagem há poucos dias falando das dificuldades que se instalariam na hora de punir Bolsonaro caso ele fique de vez nos EUA. A matéria aborda mais aspectos relacionados às acusações levadas à corte internacional de Haia contra o quase ex-presidente brasileiro. Em resumo bem sucinto, de lá seria muito difícil dar sequência nos processos que ele enfrentará aqui no Brasil e praticamente impossível extraditá-lo para Tribunal Penal Internacional (TPI).
Diante de tantas questões que impedem uma resposta clara e objetiva, o que pode ser dito por ora é que a chance de Bolsonaro ficar por lá, usando um discurso cínico e ao mesmo tempo delinquente para fomentar ainda mais sua violenta matilha, é grande, mas ele também poderá sentir a temperatura dos primeiros dias do governo Lula para então decidir voltar e, talvez, reunir sua esposa e filha e então tentar sair do país outra vez. Por sua personalidade, fica difícil acreditar que ele permaneceria no Brasil esperando que a Justiça batesse à sua porta para levá-lo à cadeia.