POVOS INDÍGENAS

EXCLUSIVO: Sônia Guajajara fala à Fórum sobre Ministério dos Povos Originários e sua história de vida e luta

Guajajara falou sobre sua infância, adolescência, estudos e militância política. Além da vida pessoal, a provável ministra dos Povos Originários tratou sobre o caos que os povos indígenas viveram sob quatro anos de Bolsonaro e as perspectivas para o governo Lula

Sonia Guajajara em entrevista exclusiva à Fórum.
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A deputada federal eleita Sônia Guajajara (PSOL-SP) concedeu uma entrevista exclusiva à Fórum na última sexta-feira (16) em Brasília. Guajajara falou sobre sua infância, adolescência, estudos e militância política.

Além da vida pessoal, a parlamentar falou sobre o caos que os povos indígenas viveram nos últimos anos sob o governo de Jair Bolsonaro, suas perspectivas para o novo governo do presidente Lula e o protagonismo que indígenas terão à frente de pastas importantes, como a Sesai (Secretaria Especial de Saúde Indígena), Funai (Fundação Nacional do Índio) e o próprio Ministério dos Povos Originários.

A deputada e coordenadora nacional da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), inclusive, é cotada para ser a ministra dos Povos Originários. Com exclusividade, ela declarou estar apenas aguardando o convite do presidente Lula que, caso o faça, aceitará o desafio. Quando questionada se seria ministra, Sônia afirmou:

"Olha, eu estou esperando este convite [risos]. A Apib sabiamente apresentou uma lista tríplice ao presidente Lula, como uma forma de exercitar essa democracia indígena, porque tem uma pessoa do Nordeste que estava sendo indicada pela sua região, uma da Amazônia que também estava sendo indicada, tem uma pessoa indicada por partidos e coletivos. E nós entendemos ser importante juntar esses nomes e entregar ao presidente Lula, até para garantir que quem for assumir seja uma pessoa vinculada ao movimento, e não correr o risco de vir uma pessoa somente pelo meio da articulação partidária e sem vínculo ao movimento indígena", declarou.

Questionada sobre os três nomes que compõem a lista, Sônia disse que estaria, além dela, o nome da deputada federal Joenia Wapichana (Rede-RR), primeira mulher indígena eleita para a Câmara Federal, mas que acabou não se reelegendo no pleito de 2022, e Weibe Tapeba, vereador pelo PT em Caucaia (CE). Infere-se da fala de Sônia que os três nomes estarão em postos de lideranças do ministério a ser criado.

A líder indígena contou que a ideia de criar o ministério, anunciado por Lula em 12 de abril de 2022, no acampamento Terra Livre, em Brasília, foi levantada antes da ocasião, quando se encontrou com o petista e disse a ele que os povos indígenas precisam de representação em pastas como Cultura, Justiça, Saúde, Educação e Meio Ambiente. "A gente nem falou do Ministério dos Povos Indígenas, e ele tirou essa carta da manga e disse "vou criar o ministério dos Povos Indígenas", disse. E completou afirmando: "Ao final do acampamento Terra Livre ele perguntou: 'você aceitaria ser ministra deste ministério?', e eu falei imediatamente: 'presidente, esse ministério já é nosso, então qualquer indígena preparado assume, eu quero mesmo é o do Meio Ambiente, você dá para nós?'", falou em tom de descontração.

Quando perguntada sobre investimentos estrangeiros no Brasil para a preservação das florestas, meio ambiente e povos originários, Sônia disse que, nos relatórios de transição, foi apresentado uma proposta chamada FBI (Fundo Bioma Indígenas), que é um ambiente que vai captar e gerir recursos nacionais e internacionais, além dos recursos públicos, que não constaria no orçamento público. A finalidade seria proteger florestas e biomas. Sônia também informou que há conversas com embaixadas da Alemanha, Reino Unido e Noruega. Com os EUA, declarou já ter encontro marcado para ver como os estadunidenses podem ajudar os povos indígenas, pois já há relações com o governo e os recursos precisam vir por via pública. Sônia também falou do interesse em estabelecer relação com o governo da China para a preservação das matas brasileiras.

"Acho que nós, indígenas, estamos em um momento histórico, de retomada da democracia. Todo mundo muito esperançoso. Não será fácil, serão muitos desafios. Mas é um momento em que a sociedade civil precisa estar organizada, mobilizada. O bolsonarismo está nas ruas ainda tentando, inclusive, impedir a posse de Lula. Eles estão aí com esse barulho todo, mas a gente já ganhou, vamos fazer valer isso. Mas precisamos nos resguardar. Esse momento é de literal transição, de governo, do movimento indígena, de aldear a política. Elegemos duas mulheres indígenas para o Congresso Nacional. Queremos não só aldear o Congresso, mas aldear o Executivo, a política, agora esperamos Lula demarcar. Deixo aqui o chamado para a urgência na luta em defesa da mãe terra. Convoco para o reflorestar mentes", finalizou.

Assista abaixo à íntegra da entrevista