Documentos da Polícia Rodoviária Federal (PRF) obtidos pelo jornal O Estado de S. Paulo e publicados neste domingo (6) mostram que o órgão de segurança responsável por resguardar as estradas federais do país aumentou abruptamente o número de operações para vistoriar ônibus, sobretudo no Nordeste, se forem comparadas as datas em que foram realizados o primeiro turno das eleições, 2 de outubro, e o segundo, dia 30 do mesmo mês. Os dados corroboram a tese de que a PRF foi claramente aparelhada por Jair Bolsonaro (PL) para atuar politicamente, na tentativa de prejudicar o agora presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
O número de ônibus abordados no primeiro turno das eleições, em todo país, foi de 298, contra 678 no dia do segundo turno, quando Bolsonaro e Lula disputaram a fase final do pleito. Em Alagoas, estado onde Lula teve a massacrante maioria dos votos e reduto eleitoral do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), aliado de primeira hora de Bolsonaro, os coletivos abordados subiram 7, em 2 de outubro, para 90 no dia 30, o que representa 13 vezes mais veículos parados pelos agentes.
No Maranhão, outro reduto eleitoral de Lula, por exemplo, as abordagens subiram de 10 para 74. A região Nordeste, que concentra 27% da população brasileira, foi alvo de praticamente metade de todas as operações realizadas pela PRF no dia do segundo turno da disputa presidencial, concentrando 49,5% do total de abordagens a coletivos.
De maneira explícita, um documento ao qual teve acesso o Estadão, da Superintendência da PRF no Pará, aponta que a prioridade das ações deve estar concentrada nos ônibus, que são os veículos que transportam os cidadãos mais pobres, e visam principalmente encontrar algum indício de “crime eleitoral”, ainda que isso não fique claro no texto.
“Comando de Fiscalização em Ônibus com ênfase no flagrante de crimes eleitorais. Os veículos de transportes coletivos de passageiros são prioridade, porém, na ausência dos mesmos, outros tipos de veículos devem ser abordados”, assinala o documento vazado.