Certa vez, em meio à pandemia da Covid-19, o general Eduardo Pazuello, então ministro da Saúde, disse a Jair Bolsonaro (PL) numa live, depois de levar um aperto para engrossar o discurso negacionista, que “manda quem pode e obedece quem tem juízo”. Ainda não se sabe se essa lógica prevalecerá com o governador eleito de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), que vem sendo abertamente pressionado, para dizer o mínimo, pelas alas mais reacionárias e violentas do bolsonarismo, que querem atochar no governo a ser instalado no Palácio dos Bandeirantes as figuras mais bizarras que ficarão desempregadas no âmbito federal após a vitória de Lula (PT).
Por conta disso, na tarde desta segunda-feira (21), o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho do futuro ex-presidente, se reuniu com Tarcísio no gabinete de transição instalado num edifício da Rua Boa Vista, no Centro da capital paulista. O rebento 03 do líder extremista quer empurrar goela abaixo de Tarcísio nomes da chamada “ala ideológica”, um eufemismo para definir o “seleto” grupo de radicais mais lunáticos e violentos que já fizeram parte do governo de seu pai, como o ex-ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, e o ex-secretário de Cultura, Mário Frias.
Eduardo deixou claro suas intenções por sua companhia ao chegar para o encontro. Ao lado do deputado estadual Gil Diniz (PL-SP), conhecido como “Carteiro Reaça”, um dos mais agressivos e ultrarreacionários parlamentares bolsonaristas de São Paulo, o filho do chefe de Estado derrotado por Lula entrou no elevador e foi encontrar o ex-ministro da Infraestrutura de seu pai, que agora terá nas mãos o estado mais rico e populoso do Brasil.
Interlocutores que participam dos preparativos para o novo governo dizem que Tarcísio, embora um bolsonarista de primeira hora na gestão caótica que se encerra em pouco mais de um mês, tem adotado um discurso mais cauteloso e menos radical do que a tal “ala ideológica”, o que a bem da verdade já era uma marca sua durante o período em que esteve à frente do Ministério da Infraestrutura, se distanciando das figuras mais tresloucadas e destrambelhadas que compuseram o séquito de Jair Bolsonaro.
Essas fontes dizem ainda que o governador eleito estaria resistente quanto a alojar esses fundamentalistas de extrema direita em sua equipe, sempre usando o tal chavão de “nomear nomes técnicos”, como forma de desviar das cobranças dos bolsonaristas radicais. No entanto, a ida de Eduardo Bolsonaro a São Paulo nesta tarde é um sinal claro de que o clã político pretende se comportar como dono dos governos estaduais que se elegeram usando o nome do patriarca extremista que sairá do Palácio do Planalto em 1° de janeiro de 2023.