Passado o primeiro turno das eleições, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) lidera a corrida ao Planalto com 48,43% dos votos válidos e mais de 6 milhões de votos à frente de Jair Bolsonaro (PL), que surpreendeu a todos marcando 43,2% contra os prognósticos das pesquisas que o colocavam na faixa dos 35%.
Ainda que com maiores chances de vencer no segundo turno e, portanto, obtendo uma vitória eleitoral, os apoiadores do ex-presidente não comemoraram a ampla votação como os seus adversários. Ficou o “sabor de vitória” para os apoiadores do atual presidente, que parecia moribundo mas acabou reabilitado após a votação. Ficou também evidente, para além dos balanços dos candidatos, que as pesquisas eleitorais erraram muito, e fora das margens de erro.
A pesquisa Ipec divulgada no último sábado (1) apontou, na consulta nacional, uma vitória de Lula no primeiro turno com 51% dos votos válidos, enquanto Bolsonaro teria 37%. Na prática, Lula oscilou um pouco abaixo da margem de erro da pesquisa, que é de dois pontos, enquanto Bolsonaro obteve cerca de seis pontos a mais do que era esperado.
Já na pesquisa Datafolha, divulgada no mesmo dia, a oscilação de Lula esteve dentro da margem de erro, de dois pontos, uma vez que a pesquisa apontava o ex-presidente com 50% dos votos válidos e colocava em dúvida a ocorrência ou não de um segundo turno. A pesquisa errou mesmo em relação aos votos de Bolsonaro, e marcou apenas 36% de votos válidos ao presidente na véspera da eleição.
Há diversas hipóteses de última hora que tentam explicar o por quê de Bolsonaro ter tido mais votos. Uma delas, e seria necessário um estudo para sua comprovação, é a de que diversos setores bolsonaristas da sociedade, incluindo igrejas evangélicas e redes de apoiadores no WhatsApp, tenham instruído suas bases a não responder pesquisas. Outra hipótese é de que a fake news de que Marcola teria declarado apoio a Lula que chegou a se tornar matéria na Record foi espalhada a milhões de celulares principalmente da região Sul e Sudeste do país no final de semana e que isso poderia ter revertido votos.
São meras hipóteses, que podem até justificar o erro em nível nacional. Mas do ponto de vista dos estados a situação dos institutos se complica um pouco mais. Em alguns, os erros foram imensos.
Vamos a esses estados:
São Paulo
No maior colégio eleitoral do Brasil, o Ipec do dia anterior mostrava Lula com 48% dos votos válidos e Bolsonaro com 39%. Lula teve 40,9% e Bolsonaro 47,7%. No Datafolha, Lula apresentava 41% dos votos e Bolsonaro 37%
Para o governo do Estado a pesquisa Ipec também errou feio. Fernando Haddad (PT) aparecia na liderança com 41% e Tarcísio de Freitas (Republicanos) ficava em segundo lugar com 31%. O Datafolha apontava a liderança de Haddad com 39% contra os mesmos 31% do principal adversário. No entanto, Tarcísio vai ao segundo turno com 42,32% dos votos válido contra um Haddad que marcou 35,7%. A diferença de votos para Tarciso foi de mais de 11%.
Para o Senado, as pesquisas apontavam Márcio França (PSB) vencedor com larga vantagem e o eleito foi Marcos Pontes (PL), o astronauta bolsonarista. Na véspera das eleições o Ipec apontava vitória de França com 43% contra 31%. No Datafolha os resultados eram parecidos; França venceria com 45% contra os mesmos 31% de Pontes. O astronauta venceu com quase 50% dos votos e o aliado de Lula ficou com 36,27%. O erro dos Ipec e do Datafolha neste caso foi de quase 20% na eleição do astronauta.
Rio de Janeiro
No Rio de Janeiro as pesquisas erraram feio quanto à liderança de Lula. A Ipec apontava no sábado que Lula venceria no Estado que um dia abrigou a capital do país com 46% dos votos válidos contra 42% de Bolsonaro. Já o instituto Datafolha apontou Lula com 42% e Bolsonaro com 37%. Mas após o pleito, se o Rio de Janeiro fosse um país, Bolsonaro venceria em primeiro turno com 51,1% dos votos contra 40,7% de Lula.
Também a disputa para governador terminou com vitória do candidato de Bolsonaro. Cláudio Castro (PL) se reelegeu com 58% dos votos apesar de sua ascensão ao poder estar atrelada ao ex-governador Wilson Witzel (PMB) que deixou o cargo após processo de impeachment, foi preso em seguida e tornou-se o político mais rejeitado do Estado. Aparentemente Castro conseguiu, com sucesso, se desvincular da imagem do ex-governador. Tal informação já era ventilada nas pesquisas que apontavam a reeleição do atual governador no segundo turno. O que pegou os analistas de surpresa foi o tanto que o principal adversário de Castro, Marcelo Freixo (PSB), desidratou, fazendo apenas 27,4% do eleitorado fluminense.
Freixo havia marcado 35% no Datafolha de sábado, contra 44% do Castro. A pesquisa Ipec também apontava um segundo turno com Castro fazendo 47% e Freixo 28%. No entanto, o voto no atual governador surpreendeu ambas pesquisas.
No Senado não houve nenhuma surpresa. Tanto Ipec como Datafolha apontavam o ex-jogador Romário (PL), aliado de Bolsonaro, como provável vencedor com 41% e 35%, respectivamente. O baixinho desidratou e fez 29,2% dos votos, o suficiente para ficar na frente do seu principal adversário, Alessandro Molon (PSB), que ganhou alguns pontinhos em relação às pesquisas, mas acabou com apenas 21,2% dos votos e não foi eleito.
Minas Gerais
Em Minas Gerais, o estado que geralmente espelha as eleições nacionais por ter um verdadeiro Brasil dentro das suas divisas, com regiões muito diversas e que dialogam com diferentes setores do país, as pesquisas apontavam resultados muito mais otimistas do ponto de vista progressista do que a realidade da apuração. Na pesquisa Ipec da véspera, Lula marcava 55% e Bolsonaro 34%, enquanto que o Datafolha colocava Lula com 50% e Bolsonaro com 33%.
Nas apurações, Lula venceu no Estado, e as pesquisas, em média, acertaram sua votação que ficou em 48,3%. O que surpreendeu foi a quantidade de votos do segundo colocado, Jair Bolsonaro, que fez 43,6%, cerca de dez pontos a mais, em média, do que se esperava.
O mesmo efeito foi visto em relação a disputa pelo governo do Estado. Na véspera das eleições, as pesquisas apontavam Zema com 50% (Ipec) e 49% (Datafolha). É verdade que as chances de vitória do atual governador em primeiro turno estavam postas, mas a lavada eleitoral de 56% dos votos válidos não estava nas previsões.
Kalil teve 31% na Datafolha e 42% no Ipec. Nas apurações do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) acabou obtendo uma média de ambas e terminou com 35% dos votos válidos. Ninguém acertou.
Para o Senado foi eleito Cleitinho (PSB) com 41,5% dos votos. Alexandre Silveira (PSD) ficou com 35% do votos. Na pesquisa Ipec ambos apareciam empatados em 33% e no Datafolha Cleitinho liderava com 36% contra 31% do adversário.
Rio Grande do Sul
No Rio Grande do Sul apenas o Instituto Ipec fez um levantamento específico para o Estado na véspera das eleições. Na disputa para o governo, a pesquisa apontava vitória de Eduardo Leite (PSDB) com 40% dos votos válidos contra 30% de Onyx Lorenzoni (PL). Edegar Pretto, do PT, ficaria com apenas 20% segundo a pesquisa.
No entanto, os resultados das apurações mostraram um crescimento surpreendente de Lorenzoni, que chegou aos 37,5% dos votos válidos, além de uma desidratação do candidato tucano que ficou com 26,81 e quase perdeu a vaga no segundo turno para Pretto, que marcou 26,77%. Cerca de 2 mil votos de diferença. Mais erros.
A Ipec também não pôde prever a vitória acachapante do general Hamilton Mourão (Republicanos) na disputa ao Senado com 44% dos votos contra 37,8% do favorito Olívio Dutra (PT). De acordo com o Ipec, Dutra marcaria 36% enquanto Mourão faria 28%.
Também a consulta presidencial ao eleitorado gaúcho errou ao apontar que Lula terminaria na frente com 44% das intenções de votos contra 42% de Bolsonaro. Na realidade, foi o petista quem marcou 42% e o atual presidente chegou a 48,9% dos votos válidos no Estado.
Pernambuco
Apesar da vitória de Lula em Pernambuco com 65% dos votos válidos no Estado contra 29,9% de Bolsonaro, o resultado eleitoral mostrou números animadores para o atual presidente pois apesar de ser muito rejeitado pelos pernambucanos, ao menos viu o adversário emagrecer em relação a pesquisa Ipec divulgada na véspera que o apontava com 69% das intenções de votos. Na mesma pesquisa, Bolsonaro obteve 23% das intenções de votos válidos.
A mesma pesquisa apontava um segundo turno na disputa para o governo do estado entre as candidatas Marília Arraes (Solidariedade) que obteria 38% e a tucana Raquel Lyra (PSDB) que marcaria 17% e disputaria uma vaga no segundo turno com mais três candidatos. Na prática, Lyra subiu uns pontinhos e ficou em 20,5% dos votos, enquanto Marília somou pouco menos de 24%.
Para o Senado, Teresa Leitão (PT) era apontada pela Ipec como a principal favorita a ganhar o pleito com 34% das intenções de votos, mas acabou obtendo 46% e trouxe mais uma discrepância entre pesquisa e apuração.
Bahia
Por fim, na Bahia, o estado mais lulista do Brasil, a Ipec acertou os resultados presidenciais. Lula fez 69,73% no estado, muito perto dos 70% apontados e Bolsonaro chegou aos 24%, também próximo dos 21% apontados pela pesquisa. No Datafolha, Lula tinha 67% e Bolsonaro 23%.
Já para governador, as pesquisas novamente erraram. Tanto Ipec como Datafolha apontavam uma vitória de ACM Neto (UB) em primeiro turno com 51% e a votação de Jerônimo Rodrigues (PT) ficaria em 40% (Ipec) e 38% (Datafolha). No entanto, o candidato quase venceu em primeiro turno e fez 49,45% dos votos válidos contra 40,8% de ACM Neto.
Já a vitória de Otto Alencar (PSD) para o Senado foi prevista pelos institutos. Otto marcou 54% no Ipec e 53% no Datafolha. Na apuração do TSE ele atingiu mais de 58% dos votos e foi reeleito.