Um levantamento de inteligência digital realizado pela equipe do DataFórum mostra que o suposto “atentado” contra o candidato bolsonarista ao governo de São Paulo Tarcísio de Freitas (Republicanos), que deixou um homem morto, pode ter sido uma grande armação. O evento ocorreu durante um ato de campanha do ex-ministro na favela de Paraisópolis, na capital paulista, no dia 17 deste mês (segunda-feira), mas nas redes de seguidores de Bolsonaro já se falava de um possível ataque desde o dia 15 (sábado), pelo que apurou a equipe do DataFórum. O principal material utilizado pelo grupo era um vídeo do general Heleno, de 2018, que era veiculado como se fosse um alerta sobre os riscos que Tarcísio corria.
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A compilação de postagens foi realizada pelo cientista de dados Tiago Pimentel. “No dia 15 de outubro detectamos em monitoramento para o DataFórum a circulação nas redes sociais e aplicativos de mensageria, como o Telegram e o WhatsApp, um vídeo no qual o general Heleno alerta sobre planos de um atentado terrorista. No vídeo, ele afirma que a ausência de um candidato, cujo nome não é citado, nos debates se justificava por razões de segurança, uma vez que teriam sido descobertos planos para assassiná-lo. Nas redes sociais, o vídeo circulava com uma legenda que sugeria que o candidato em questão era Tarcísio de Freitas, que disputa o governo de São Paulo. No entanto, a gravação é de 2018 e o candidato supostamente ameaçado era Jair Bolsonaro, e não Tarcísio, na disputa contra Fernando Haddad pela Presidência”, explicou Pimentel.
Veja a sequência de publicações anteriores ao fato ocorrido na favela paulistana, mas que fazem menção a um "ataque". Atente para a data de todos os tuítes.
Agências de checagem, ainda antes do episódio violento em Paraisópolis, já vinham alertando leitores em vários veículos de comunicação de que o vídeo protagonizado por Heleno era da eleição presidencial de 2018, mas os bolsonaristas seguiam o utilizando para alardear um ataque a Tarcísio de Freitas, o que só "ocorreria" 48 horas depois.
O Estadão Verifica, assim como a Aos Fatos e a AFP Checamos, da Agence France-Presse (AFP), confirmaram que o conteúdo era antigo e que estava sendo usado dias antes do suposto tiroteio que terminou com um morto durante a visita de Tarcísio a uma das maiores favelas de São Paulo.
Vídeo do assassinato
Este não é o único indício de que o acontecimento que resultou na morte por tiros de Felipe Silva de Lima, de 27 anos, em Paraisópolis pode ter sido forjado. Em reportagem veiculada hoje com exclusividade pela Fórum foram revelados dois vídeos que mostram a vítima e um outro homem andando de moto, sem imporem qualquer ameaça a quem estava na via pública e aparentemente desarmados. No outro vídeo o piloto da moto já apareça no chão baleado. Tratava-se de Felipe e até o momento o nome do policial à paisana que o teria matado não foi relevado.
Além desses vídeos revelados pela Fórum, houve pressão e intimidação da campanha de Tarcísio para que registros feitos por Marcos Andrade, cinegrafista da Jovem Pan News, fossem apagados. Ele revelou em áudio a intimidação em matéria realizada pela Folha de S. Paulo. Tarcísio teria pedido sua demissão da Jovem Pan e à Folha o profissional disse que sofreu pressão da emissora para gravar um vídeo a favor de Tarcísio.
Segundo o The Intercept a ordem teria partido de Fabrício Cardoso de Paiva, agente licenciado da Abin, a serviço da campanha de Tarcísio.