Bolsonaristas entraram em polvorosa nesta terça-feira (25) após o deputado federal André Janones (Avante) sugerir que tem sob sua posse materiais que suspostamente estariam gravados no celular do ex-ministro Gustavo Bebianno.
Janones foi às redes prometendo uma bomba contra Jair Bolsonao (PL) ao divulgar imagens que seriam de supostos vídeos guardados pelo ex-aliado do presidente.
Mas, afinal, por que bolsonarista temeriam o conteúdo gravado no celular do ex-ministro? A resposta representa uma pedra no sapato de Bolsonaro desde 2020: Bebianno morreu em março daquele ano e, antes de morrer, afirmou em mais de uma ocasião que mantinha um material gravado para ser usado contra o presidente caso algo lhe acontecesse.
De homem forte de Bolsonaro a primeiro ministro demitido
Bebianno estreitou os laços com Bolsonaro em 2017 e, em 2018, era considerado homem forte do então candidato à presidência, tendo atuado como coordenador da campanha do atual presidente. Ele costurou o acordo que levou Bolsonaro ao PSL e presidiu a legenda durante a corrida eleitoral daquele ano.
Após a eleição, Bebianno deixou o posto e foi escolhido para assumir a Secretaria-Geral da Presidência, um dos ministérios com gabinete no Palácio do Planalto.
A "amizade", no entanto, durou pouco. Em fevereiro de 2019, ainda no segundo mês de governo, Bebianno foi o primeiro ministro a ser demitido. Ele deixou o governo em meio a uma crise que se originou com a suspeita de que o PSL, partido ao qual Bolsonaro e Bebianno eram filiados, teria usado candidaturas “laranja” nas eleições de 2018.
O jornal Folha de S.Paulo informou na época que, quando Bebianno presidia o PSL, o partido, repassou R$ 400 mil a uma candidata a deputada federal de Pernambuco. Segundo o jornal, o repasse foi feito quatro dias antes das eleições, e ela recebeu 274 votos. Bebianno negou as irregularidades, afirmando que não foi o responsável por escolher as candidatas que receberam dinheiro do partido. Isso porque, segundo ele, a decisão coube aos diretórios locais.
Após a reportagem da Folha, Bebianno negou em entrevista ao jornal “O Globo” que fosse o pivô da crise e acrescentou que, somente naquele dia, havia falado com o presidente por três vezes. Na ocasião, Bolsonaro ainda estava internado em razão de uma cirurgia. Após a publicação da entrevista, o vereador Carlos Bolsonaro usou uma rede social para dizer que Bebianno mentiu ao dizer que havia falado com o presidente e, então, instaurou-se um processo de "fritura" do então aliado até ele ser demitido.
A partir daí, Bebianno passou a fazer fortes críticas a Bolsonaro, chamá-lo de "traidor" e dizer que temia por uma "ruptura institucional" no governo diante das ameaças do presidente à democracia.
Morte em 2020, material guardado e "medo de falar"
Em 2020, a Polícia Federal e o Ministério Público encampavam um inquérito para apurar supostos disparos ilegais de mensagens feitos pela campanha de Bolsonaro em 2018. Bebianno, que já não estava mais no governo, seria um dos ouvidos no âmbito desta investigação, mas não prestou depoimento pois morreu em março daquele ano em circunstâncias consideradas suspeitas por amigos e pessoas próximas.
Ele estava no seu sítio em Teresópolis (RJ) com sua família e teve um infarto fulminante. Familiares e amigos, no entanto, chegaram a pedir investigação mais aprofundada sobre sua morte, já que Bebianno tinha 56 anos, porte atlético, praticava jiu-jitsu há décadas, não bebia e não fumava.
Antes de morrer, Bebianno deu uma série de entrevistas criticando Bolsonaro e afirmando que tinha material guardado para ser usado contra o presidente caso algo lhe acontecesse - sugerindo que poderia morrer em breve.
Em entrevista à rádio Jovem Pan em dezembro de 2019, Bebianno disse que se sentia ameaçado e que tinha material guardado contra Bolsonaro, inclusive, fora do Brasil. "Me sinto, sim, ameaçado. O presidente Jair Bolsonaro é uma pessoa que tem muitos laços com policiais no Rio de Janeiro. Policiais bons e ruins. Me sinto, sim, vulnerável e sob risco constante (...) Eu tenho material, sim, inclusive fora do Brasil. Porque eles podem achar que, fazendo alguma coisa comigo aqui no Brasil, uma coisa tão terrível que fosse capaz de assustar quem estivesse ao meu redor e, portanto, inibir a divulgação de algum material... Eu tenho muita coisa, sim, inclusive fora do Brasil. Então, não tenho medo", disparou à época.
Na mesma entrevista, o ex-ministro ainda disse que "não tem medo de morrer". Já em março de 2020, poucos dias antes de sua morte, Bebianno concedeu entrevista ao Roda Viva, da TV Cultura, e em conversa com jornalistas nos bastidores do programa, disse ter medo de revelar tudo o que sabe sobre o presidente.
Em dezembro deste mesmo ano, quando Bebianno já havia morrido, sua viúva, a advogada Renata Bebianno, prestou depoimento à PF e MP no inquérito que apurava os disparos ilegais da campanha de Bolsonaro e, na ocasião, disse que destruiu o celular do marido e que não verificou seu conteúdo. À época, porém, os investigadores contestaram a versão.
Quatro meses antes, em junho de 2020, a colunista Thaís Oyama, do portal UOL, informou que o celular de Bebianno, que estaria sob posse de sua irmã nos Estados Unidos, teria chegado ao Brasil. Segundo Thais Oyama, uma pessoa que teve acesso ao teor das conversas contidas no celular afirmou que a revelação desses diálogos seria "destruidora" para Bolsonaro.
Facada em Juiz de Fora
Na entrevista concedida em março de 2020 ao Roda Viva, dias antes de Bebianno morrer, quando os jornalistas perguntaram sobre o episódio da facada contra Jair Bolsonaro em Juiz de Fora, durante a campanha, o ex-aliado afirmou que o vereador Carlos Bolsonaro "atrapalhou" e que, de alguma maneira, contribuiu para que o presidente fosse atacado por Adélio Bispo.
Isso porque, segundo ele, Bolsonaro sempre andava nos carros da campanha acompanhados de um oficial do Bope e outro das Forças Armadas, que era o responsável em manter o então candidato de colete a prova de balas quando havia contato direto com o público.
Naquela ocasião, segundo Bebianno, no entanto, Carlos Bolsonaro resolveu ir junto e deixou os oficiais de fora do carro, o que fez com que Bolsonaro ficasse sem colete.
"Entrou naquele carro e ficou brincando com um drone, parecia uma criança. Resultado: Bolsonaro ficou sem colete e levou a facada", relatou.
Paulo Marinho: "Lembra do Bebianno?"
Em outubro de 2021, empresário Paulo Marinho, suplente de Flávio Bolsonaro no Senado, mandou um recado com tom de ameaça a Jair Bolsonaro. Rachado com o presidente desde o primeiro ano do governo, Marinho citou o ex-ministro Gustavo Bebianno ao comentar a forma como o chefe do Executivo reagiu diante de uma pergunta sobre rachadinhas feita por seu filho, André Marinho, em entrevista à Jovem Pan.
Marinho se disse "absolutamente surpreso" com a forma como Bolsonaro tratou seu filho e disparou: "Você lembra do nosso amigo Gustavo Bebianno? Talvez você já tenha esquecido. Mas ele não lhe esqueceu, pode ter certeza disso. Quando você estiver chorando no banheiro do palácio, lembre disso, ele não lhe esqueceu".
Bebianno havia morrido em março de 2020 e, nos meses anteriores ao seu falecimento, concedia entrevistas que dava a entender que possuía informações que comprometeriam Bolsonaro. Este material estaria em um celular que, segundo Renata Bebianno, viúva do ex-ministro, foi destruído.
Em julho, o empresário Paulo Marinho disse que Flávio Bolsonaro havia sido avisado da investigação sobre o caso Queiroz antes das eleições de 2018 e sugeriu acesso ao celular de Bebianno, o que não foi permitido por Renata.
Agora, em 2022, Paulo Marinho estaria assessorando Lula (PT) para os debates contra Bolsonaro, o abastecendo com informações que poderiam incluir, inclusive, aquelas relacionadas a Bebianno, já que o empresário era um dos melhores amigos e confidente do ex-ministro falecido.