AMEAÇA À DEMOCRACIA

Da tropa de choque de Collor a bolsonarista que ataca a PF – Quem é Roberto Jefferson

Ele já foi também coordenador de campanha de Ciro Gomes, há 20 anos, e foi um dos cernes do Mensalão, o que lhe rendeu uma condenação de 7 anos. Neste domingo, o ex-deputado atirou contra agentes federais

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Roberto Jefferson Monteiro Francisco, de 69 anos, é uma velha figura da mise-en-scène política brasileira. Advogado que ganhou notoriedade participando de programas de televisão nos anos 80, “defendendo o direito dos menos favorecidos”, foi eleito para ocupar uma cadeira de deputado federal pela primeira vez em 1982, assumindo o posto no ano seguinte.

Filiado ao MDB e posteriormente ao PP, com o fim do bipartidarismo nos anos finais da Ditadura Militar (1964-1985), entra para o PTB, legenda histórica do partido de Getúlio Vargas, da qual seu avô fez parte antes do Golpe Militar de 1964, após a sigla ser recuperada (e fruto de uma disputa) por trabalhistas, em 1979.

No curto período do governo de Fernando Collor (1990-1992), Jefferson foi integrante da chamada “tropa de choque” que defendia o presidente alagoano da ofensiva de opositores e das denúncias da imprensa. Foi o integrante principal do governo na CPI instalada para investigar o primeiro ocupante eleito para o Palácio do Planalto após a volta à democracia, o que o marcou como um fiel escudeiro do mandatário derrubado por um impeachment aprovado de forma definitiva no Senado em 29 de dezembro de 1992.

Passada uma década, Roberto Jefferson volta ao noticiário nacional após “denunciar” um suposto esquema de compra de votos de deputados pelo governo liderado por Lula, em 2005. Ele batiza como “mensalão” as quantias que seriam pagas a parlamentares para darem apoio ao Executivo, sendo que ele próprio teria recebido R$ 4 milhões para fazer parte do esquema. Antes disso, em 2002, ele foi um dos coordenadores da campanha à Presidência de República de Ciro Gomes.

Cassado ainda em 2005 e condenado a 7 anos e 14 dias anos depois pela participação na chamada Ação Penal 470, do tal Mensalão, ficou inelegível por oito anos e passou a ser um duríssimo crítico do PT e da esquerda, radicalizando-se cada vez mais.

Com a chegada de Jair Bolsonaro ao poder, e da ascensão do que convencionou chamar de “bolsonarismo”, uma espécie de ultrarreacionarismo extravagante e desconexo, Jefferson e o partido então controlado por ele, o PTB, passa a dar apoio incondicional ao líder radical de extrema direita, sobretudo usando como pano de fundo e cortina de fumaça as pautas morais e a questão da posse e porte de armas.

Jefferson, aliás, faz da pauta das armas o centro de sua existência política mais recente. Sem mandato, ele frequentemente posta ataques a instituições da República portando pistolas, revólveres, escopetas e fuzis, ameaçando “fazer e acontecer”. No entanto, suas posturas e argumentos para lançar tais ataques são absolutamente distorcidas. Agindo por uma enviesada “defesa da liberdade”, o ex-deputado tenta justificar sua postura de agressão constante ao Judiciário, às leis e aos marcos civilizatórios com base num discurso confuso, que aposta num misto de religiosidade com mentalidade reacionária ao melhor estilo da extrema direita dos EUA.

De mais de um ano para cá, Jefferson foi alvo central do inquérito que corre no STF sobre as milícias digitais que atuam a favor de Bolsonaro nas redes sociais. O presidente da Corte, ministro Alexandre de Moraes, que também chefia a ação realizada no Supremo, determinou sua prisão, com base nas ameaças e nas atitudes sem limites do ex-deputado que se tornou símbolo da irracionalidade bolsonarista.

Em janeiro deste ano, uma decisão permitiu que Jefferson cumprisse a medida judicial foram da cadeia, por meio de uma prisão domiciliar, só que a contrapartida imposta pelo Judiciário era de que ele não atuasse na internet e cessasse os ataques e ameaças às instituições.

No entanto, após um novo vídeo no qual ele insulta a ministra do STF e do TSE Carmén Lúcia, divulgado na noite de sexta-feira (21), uma nova decisão determinou seu regresso para a prisão, o que resultou na operação da PF para cumprimento deste mandato na tarde deste domingo (23), que resultou na reação à bala de Jefferson contra os agentes federais.