O programa do presidente Jair Bolsonaro (PL) no horário eleitoral gratuito exibiu nas televisões brasileiras nesta terça-feira (18) um clipe de 30 segundos contendo imagens do momento em que o candidato ao governo de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), ouviu tiros na comunidade de Paraisópolis, na capital paulista. O fato ocorreu na manhã da última segunda-feira (17) e tem sido explorado pelas campanhas bolsonaristas que afirmam que Tarcísio teria sofrido um "atentado" e buscam associar o PT ao crime organizado. A visita foi incluída de última hora na agenda da campanha.
Acontece que além de difundir uma narrativa sem confirmação, de acordo com a Justiça Eleitoral, os programas exibidos nesta terça deveriam ter sido entregues na última sexta-feira (14), três dias antes das cenas exibidas terem acontecido. Esse desrespeito às regras pode fazer com que o vídeo seja considerado irregular perante a Justiça Eleitoral.
O clipe serviu de abertura para o vídeo completo, que tem cerca de 5 minutos, e mostrou aproximadamente 5 segundos da cena em que Tarcísio e sua equipe estão dentro de um imóvel e, ao ouvirem os tiros, se agacham. Em seguida um letreiro acompanhado de narração masculina diz que o candidato foi atacado na comunidade, o que é descartado pelas autoridades paulistas. Na sequência relembra outro episódio de tiros realizado próximo a uma igreja onde a primeira-dama Michelle Bolsonaro fez um discurso e a facada sofrida pelo atual presidente durante sua campanha em 2018.
Fernando Haddad (PT), candidato ao governo de São Paulo, afirmou durante o programa Roda Viva, da TV Cultura, na noite da mesma segunda-feira (17) que bolsonaristas fazem uso "oportunista" do tiroteio. "Eu vejo com muita preocupação [esse episódio]. Eu mesmo, às 13h, eu liguei para o Tarcísio, que me retornou seis horas depois. E ele me relatou descartar qualquer vinculação política. Então, eu acho que bolsonaristas estão fazendo uso oportunista, o fato de já levar para a TV, de mudar [o perfil] na Wikipedia, já tornar o Tarcísio uma vítima de ataque político. Eu acho que revela uma pressa que já causa apreensão", declarou.
Relembre o caso
Tarcísio cancelou agenda e fugiu durante suposta troca de tiros em Paraisópoplis na manhã da última segunda-feira (17) quando participava de ato no Polo Universitário da comunidade. O candidato aparece sorrindo em imagem divulgada pela TV Globo, que diz que "candidato e jornalistas que acompanhavam a agenda de campanha chegaram a ficar abaixados em uma sala no local". Em seguida, o ex-ministro de Bolsonaro deixou o local em uma van blindada.
Nas redes, bolsonaristas ligaram o tiroteio a um eventual atentado contra o candidato. No entanto, vídeos mostram que a troca de tiros não ocorreu no ato da campanha, que era em um prédio fechado. Dois homens foram identificados como suspeitos de participar do tiroteio. Felipe Silva de Lima, 27, foi morto na troca de tiros —ele tem duas passagens na polícia por roubo—, e Rafael de Almeida Araujo, que estava na garupa da moto de Lima. Lima chegou a ser socorrido e levado para o Hospital Campo Limpo, mas não resistiu e morreu. Araujo está foragido.
SSP já havia descartado “atentado” contra Tarcísio
A Secretaria de Segurança Pública já havia confirmado que os tiros ouvidos em Paraisópolis, no momento em que Tarcísio de Freitas (Republicanos) realizava uma visita de campanha, não têm qualquer relação com a presença do ex-ministro bolsonarista no local e, tampouco, foram de cunho político.
A pasta responsável pelas policiais de São Paulo informou que uma perseguição terminou em confronto numa localidade não próxima ao prédio onde Tarcísio estava. O repórter Victor Ferreira, da TV Globo e da GloboNews, contou que o tiroteio ocorreu longe do ponto onde ocorria a ação eleitoral do candidato do Republicanos.