A fala do presidente Jair Bolsonaro (PL) durante o podcast Paparazzo Rubro-Negro, na qual uma ida a uma comunidade carente do DF para ver “menininhas de 14 e 15 anos” que estariam se prostituindo e que lá “pintou um clima” e ele “pediu para ir à casa delas” explodiu como uma bomba devastadora nas redes sociais e na imprensa de todo o país e gerou um verdadeiro terremoto caótico no QG de sua campanha à reeleição, assim como provocou confusão, constrangimento e desculpas desconexas entre seus principais aliados.
No grupo que comanda as ações do líder de extrema direita por um novo mandato à Presidência, o clima é de desespero e tentativa desenfreada de apagar um grande incêndio. Embora tenho um imenso eleitorado fixo que não deixará de dar seu voto a Bolsonaro, integrantes da campanha acreditam que a fala absurda e que gerou repúdio generalizado pelo teor abjeto será usada na TV e na internet pela campanha de Lula (PT), especialmente entre os eleitores evangélicos.
Bolsonaro já tem maioria nesse grupo, mas como está em desvantagem significativa e Lula muito próximo de ultrapassar os 50% dos votos válidos, o receio é que a história repugnante trave alguns votos e o crescimento que o atual mandatário necessita desesperadamente para ter alguma chance vitória.
Já entre os aliados, o clima é de confusão. Perdidos por conta do teor explosivo da declaração, a maioria dos principais nomes do bolsonarismo preferiu manter o silêncio e sequer responder às provocações. Mas há exceções, como por exemplo um de seus filhos, o senador Flávio Bolsonaro.
“É completamente abominável a mais nova mentira da esquerda! Pegou uma fala mal colocada do presidente para lhe imputar uma fake news nojenta! Um pai com uma filha e duas netas! Bolsonaro sempre foi um ferrenho combatente da pedofilia”, escreveu o primogênito do presidente, ainda que a “fala mal colocada” tenha sido uma narrativa que durou 40 segundos.
Já o ministro das Comunicações, Fábio Faria, preferiu adotar uma explicação diferente, alegando que houve edição no que foi dito por Bolsonaro, ainda que o teor das declarações esteja completa nos vários vídeos que circulam na internet. Ele aproveitou ainda para jogar a culpa pela disseminação da hedionda história no deputado federal André Janones (Avante), que cuida de parte da campanha de Lula nas redes.
“TSE, até quando um parlamentar em exercício fica por aí fazendo montagens, editando vídeos de forma criminosa, propagando fake news e ainda rindo disso... A Lei tem que servir para todos!!!”, postou Faria.
Quem também procurou defender o indefensável foi ex-secretário de Comunicação da Presidência da República, Fabio Wajngarten, integrante do núcleo duro da campanha de Bolsonaro pela reeleição. Como era de se esperar, ele colocou a culpa pelo absurdo proferido por seu chefe no PT.
“Há uma evidente enxurrada de mentiras por parte da campanha/apoiadores PTistas. Hoje foi de cocaína à pornografia. O órgão julgador responsável pelo processo eleitoral fecha os olhos. Vale tudo para fazer o Ladrão vencer? Venceremos mesmo assim”, justificou Wajngarten.
O vídeo de uma live, transmitida em 2021 e que foi colocada no ar à época pela CNN, em que o presidente visita uma casa habitada por venezuelanas desempregadas, mostrando a situação de pobreza delas, é a principal ferramenta que vem sendo disseminada pelas hostes bolsonaristas para justificar a horrenda história contada no podcast Paparazzo Rubro-Negro. No entanto, com exceção do fato das mulheres mostradas serem do país vizinho, nenhum outro elemento da live tem relação com o caso falado por Bolsonaro, que envolve menores, prostituição infantil e sua chegada no local dos supostos fatos.