ELEIÇÕES 2022

Padre Zezinho abandona redes sociais após ataques bolsonaristas

O religioso desabafou em texto publicado no Facebook: “Quem ajuda a dialogar com a Bíblia na mão é visto como padre inútil, ateu, comunista ou ultrapassado”

O Papa Francisco em encontro com Padre Zezinho.Créditos: Reprodução
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O Padre Zezinho, da Congregação do Sagrado Coração de Jesus, publicou um texto no Facebook para desabafar e denunciar ataques de apoiadores de Jair Bolsonaro (PL) contra ele, o Papa Francisco e à Igreja Católica, ocorridos durante a celebração de Nossa Senhora Aparecida.

O religioso de Minas Gerais afirmou estar cansado de dar espaço a fiéis “superpolitizados, irados e insatisfeitos”. Por isso, anunciou que vai abandonar as redes sociais até 31 de outubro, um dia após a realização do segundo turno entre Lula (PT) e o atual presidente.

Durante visita de Bolsonaro a Aparecida, em São Paulo, na quarta-feira (12), bolsonaristas realizaram atos políticos e atacaram jornalistas da TV Aparecida e da TV Vanguarda.

O Padre Zezinho afirmou que quem busca o diálogo é visto por grupos radicais como “inútil, comunista ou ultrapassado”. Essas pessoas “só conhecem as passagens políticas que ajudem o seu partido. Padre bom é o que vota como eles”.

Leia a íntegra do texto de Padre Zezinho:

Cansei de abrir espaço para católicos superpolitizados, irados e insatisfeitos com nossa Igreja. Estou me retirando até dia 31.

Depois das ofensas de hoje contra o Papa, contra os bispos, contra mim, com calúnias e palavras de baixo calão, estou fechando esta página até dia 31 de outubro.

O triste é que as ofensas são todas de católicos radicais que preferiram o seu partido político ao catecismo católico.

São Paulo tinha razão quando escreveu as epístolas a Timóteo e aos cristãos de Tessalônica. Não querem catequese, nem o Vaticano II, nem os documentos da CNBB, nem nenhuma orientação social e espiritual.

Já escolheram ser catequizados por dois poderosos políticos brasileiros.

Meus 81 anos, meus 56 anos de padre, meus 102 livros, minha cultura religiosa, minhas mais de 2 mil canções nada dizem para eles. Insistem que não lhes sirvo mais como padre e pregador para eles.

Acharam candidatos mais católicos do que Papas e bispos, cujos documentos nunca leram. A Bíblia nada lhes diz. Só conhecem as passagens políticas que ajudem o seu partido. Padre bom é o que vota como eles.

Quem ajuda a dialogar com a Bíblia na mão é visto como padre inútil, ateu, comunista ou ultrapassado. Nem o Papa argentino escapa. Há 2 mil anos, os escribas e fariseus e saduceus e outros quatro grupos políticos fizeram o mesmo com Jesus. Para estes religiosos radicais e ultrapolitizados, tudo o que ele dizia era errado.

Continuam a dizer que sou mau padre, que sou comunista e que sou traidor de Cristo e da Pátria porque ensino doutrina social cristã.

Dia 31 voltarei a conversar com os católicos serenos que ainda querem catequese espiritual e social e comportamental. Os outros já decidiram. Não querem estes livros que usamos para ensinar a fé católica.

Espero que estes católicos irados que desqualificam qualquer bispo ou padre que ousa ensinar um fiel a pensar como católicos consigam o que querem.

Querem um Brasil direitista ou esquerdista, porque está claro que não aceitam nenhuma pregação moderada que propõe diálogo político, social e ecumênico.