Lava Jato usou a Veja para inventar escândalo e impedir vitória de Dilma em 2014

A operação, sob o comando de Sergio Moro, forçou depoimento mentiroso do doleiro Alberto Youssef, acusando Lula e Dilma de terem conhecimento sobre transações ilícitas na Petrobras; manobra não deu certo

Sergio Moro (Foto: Lula Marques/Agência PT)
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A Lava Jato usou a revista Veja para tentar fabricar um escândalo que pudesse impedir a vitória de Dilma Rousseff (PT) sobre Aécio Neves (PSDB), nas eleições de 2014. Não deu certo.

Reportagem de Márcio Chaer, no Conjur, revela bastidores da capa da Veja de 23 de outubro de 2014, três dias antes da eleição presidencial daquele ano.

Na véspera do segundo turno, a notícia espalhada em outdoors do Brasil todo informava que “o doleiro Alberto Youssef, caixa do esquema de corrupção na Petrobras, revelou à Polícia Federal e ao Ministério Público Federal, na terça-feira passada (dia 21), que Lula e Dilma Rousseff tinham conhecimento das tenebrosas transações na estatal”. A manchete escandalosa dizia: “Eles sabiam de tudo", com as fotos de Lula e Dilma.

Foto: Reprodução

No entanto, a manobra não teve o resultado esperado e Dilma, com 51,6% dos votos, venceu o tucano, para desespero de quem atuou firmemente no sentido contrário.

A questão mais relevante é sobre a participação do hoje presidenciável e ex-juiz Sergio Moro (Podemos), da Polícia Federal (PF), do Ministério Público Federal (MPF) e de jornalistas no esquema.

O que se sabe, agora, segundo a reportagem, é que, além da gravidade do vazamento, as quatro linhas do “depoimento” - na verdade, um “adendo” de uma delação que ainda não existia - foram fabricadas somente para viabilizar a reportagem da Veja. A prova está em vídeo.

O próprio Moro comandou a audiência preliminar, quando o caso estava com o Supremo Tribunal Federal (STF). O ex-juiz dirigiu o trabalho que deveria ser da polícia e do MPF.

Com o objetivo de assegurar o adendo de Youssef, fez-se a promessa: se Teori Zavascki não homologasse a delação, ele, Moro, concederia os benefícios nos autos - como já fizera outras vezes em negociações similares. Teori homologaria a delação em dezembro.

A produção desse momento da Lava Jato, ainda segundo o Conjur, foi protagonizada pelo delegado da PF, Márcio Anselmo, e pelos procuradores Diogo Castor de Mattos e Roberto Pozzobom, sob a direção de Moro e Rodrigo Janot.

Doente, Youssef só foi hospitalizado após concordar em depor contra o PT

O doleiro Youssef estava preso havia mais de sete meses e sofria problemas de saúde, o que o levou a ser hospitalizado. Porém, detalhe, somente após concordar com o depoimento contra o PT. A própria Veja reproduziu o “adendo”.

“Perguntado sobre o nível de comprometimento de autoridades no esquema de corrupção na Petrobras, o doleiro foi taxativo:
– O Planalto sabia de tudo!

– Mas quem no Planalto? ...
– Lula e Dilma, respondeu o doleiro”.

A fabricação do depoimento irritou os advogados. Moro não tinha alçada sobre a delação de Youssef. Mesmo assim, articulou o depoimento, em contato com os advogados, com a polícia e com o MPF. Foi por pressão do então juiz que o doleiro teve de depor.

Lava Jato usou gerente da Petrobras para perseguir governos do PT

A reportagem mencionou Pedro Barusco, gerente da Petrobras. Ele declarou que recebia propinas desde a década de 1990. Porém, obedecendo os procuradores, lançou nas planilhas as propinas somente a partir de 2003.

A orientação que recebeu foi no sentido de que a Lava Jato não cobria os períodos anteriores. Ou seja, o objeto do processo eram os governos do PT.

Youssef nunca admitiu a seus advogados saber qualquer coisa sobre o Palácio do Planalto. Além disso, jamais citou uma palavra que fosse a respeito de Dilma ou Lula.