O deputado federal Ivan Valente (PSOL-SP), além de ofício ao Ministério da Justiça, protocolou esta semana uma representação na Procuradoria-Geral da República (PGR) para que o órgão investigue vazamento de informações sigilosas da Polícia Federal a Jair Bolsonaro (PL).
A motivação para a ação do parlamentar é a revelação feita em entrevista pelo ex-ministro da Educação, Abraham Weintraub, de que Bolsonaro soube antecipadamente, ainda em 2018, durante o governo de transição, que o ex-assessor Fabrício Queiroz seria alvo da Operação Furna da Onça, que afetou o filho dele Flávio Bolsonaro (Republicanos), no âmbito da investigação sobre as rachadinhas.
“Vou contar uma coisa aqui que acho que nunca contei em público. Eu estava no governo de transição, em novembro, e fui chamado para uma sala com pouca gente. [Bolsonaro] Juntou uma mesa comprida e falou: Ó, o seguinte. Está para aparecer uma acusação, que está pegando esse cara aqui (apontou para o Flávio). O governo não tem nada a ver com ele. Se ele cometeu alguma coisa errada, ele que vai pagar por isso”, relatou Weintraub em entrevista ao podcast Inteligência Lta na última segunda-feira (17).
A fala de Weintraub corrobora declaração do empresário Paulo Marinho, suplente de Flávio, que disse ao jornal “Folha de S. Paulo” que um delegado da PF antecipou ao filho do presidente – antes do segundo turno da eleição de 2018 – que Queiroz seria alvo da operação.
Na representação à PGR, Ivan Valente aponta que as revelações de Weintraub e Marinho "evidenciam vazamento de informações sigilosas sobre operação em andamento no Departamento de Polícia Federal, o que fere gravemente a legislação e o próprio Estado Democrático de Direito, tendo em vista o uso político dado às referidas informações".
Improbidade administrativa
Segundo o deputado federal, pelo fato do acesso a informações de investigações sigilosas ser vedado inclusive ao presidente da República, o vazamento desses dados configura crime de improbidade administrativa.
"Tão grave quanto a violação dos dispositivos constitucionais e legais é o risco de instrumentalização de órgãos como a Polícia Federal para o atendimento dos interesses políticos do Presidente da República representa para a democracia", afirma na representação à PGR.
"Polícia política"
Em outro trecho da representação, o parlamentar do PSOL fala sobre o risco da Polícia Federal se tornar uma "polícia política" de Bolsonaro.
"Evidentemente que o acesso a tais informações não seria possível sem a colaboração de alguém que ocupe cargo na Direção da Polícia Federal, situação esta que torna imprescindível a atuação desta Procuradoria-Geral da República, de modo a resguardar a Polícia Federal, evitando que ela se converta em uma verdadeira polícia política, dedicada a proteger aliados e parentes do atual Presidente da República Jair Bolsonaro", pontua.
Bolsonaro furioso com Weintraub
Segundo o diário conservador carioca O Globo, Jair Bolsonaro está furioso com o ex-ministro Abraham Weintraub por sua revelação. Segundo o jornal, o presidente vê o extremista que esteve à frente do MEC, famoso por suas gafes ortográficas e intelecto precário, como alguém que se comporta como seus dissidentes detratores, como por exemplo Sergio Moro, o general Santos Cruz e outros ex-bolsonaristas que agora atacam o líder ultrarreacionário, ainda que Weintraub tenha negado problemas ou desavenças com o atual ocupante do Palácio do Planalto, a quem rendeu elogios.