Cada vez há mais evidências de que não passa de uma desculpa esfarrapada o discurso de André Mendonça de que se comprometeria com o Estado laico, feito durante sabatina no Senado.
Em entrevista à rádio bolsonarista Viva FM nesta segunda-feira (17), o presidente Jair Bolsonaro (PL) comemorou a indicação de um "ministro terrivelmente evangélico" e, se valendo de uma expressão cristã - deus escreve certo por linhas tortas -, celebrou que será Mendonça quem decidirá as pautas relacionadas à "ideologia de gênero".
"Durante a campanha, assumi o compromisso perante os evangélicos de indicar um ministro para o Supremo Tribunal Federal, e nós conseguimos, ao indicá-lo, ser aprovado no Senado. Não foi fácil, quatro meses de espera, um sacrifício enorme, mas aprovamos e hoje temos um ministro evangélico no STF", disse Bolsonaro.
"Como deus escreve certo as coisas por linhas tortas, as pautas que tem a ver com ideologia de gênero, sabe quem vai decidir, por sorteio? É o André Mendonça, nosso ministro 'terrivelmente evangélico'. Traz uma paz para nós todos cristãos e brasileiros que defendemos a família acima de tudo aqui na Terra", continuou o presidente.
Apesar da afirmação de Bolsonaro, não tem como ter certeza de que os casos sobre gênero cairão nas mãos de Mendonça. Isso porque a distribuição de processos no STF ou em qualquer tribunal é feita por sorteio, através de um sistema automatizado, público e acessível, que distribui as peças de maneira automática e aleatória.
Bolsonaro vai conversar com o Senado sobre "poderio ditatorial"
Bolsonaro também voltou a bater na tecla da prisão do deputado federal Daniel Silveira (PSL), determinada pelo ministro Alexandre de Moraes após ataques e ameaças por parte do parlamentar ao Supremo Tribunal Federal (STF).
Segundo ele, a imunidade parlamentar, que concede proteção aos processos judiciais durante o período do exercício do mandato, não foi válida para o deputado. Além disso, Bolsonaro afirmou que somente páginas da direita tem sido derrubadas e desmonetizadas nas redes sociais.
Em razão disso, alegou que voltará a falar com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD), sobre uma medida provisória devolvida no ano passado que limitava a remoção de conteúdos publicados nas redes sociais.
"É um cerceamento muito forte contra a gente. Mandei uma MP para o Congresso o ano passado, o presidente do Senado achou que não tinha urgência e devolveu a MP. Vou voltar a falar com ele agora, porque essa sanha, esse poderio ditatorial de controlar as pessoas tem crescido e a esquerda tem ganhado muito com isso daí", disse Bolsonaro.