Bolsonaristas investigados por organizar manifestações antidemocráticas para o dia 7 de setembro tiveram duas reuniões no Palácio do Planalto. Os encontros ocorreram na semana anterior à operação da Polícia Federal que mirou, entre outros nomes, o cantor Sérgio Reis e o deputado Otoni de Paula (PSC-RJ).
As reuniões estão registradas na agenda oficial da secretária de Articulação Social, Gabriele Araújo, nos dias 10 e 11 de agosto. A secretaria é subordinada à Secretaria de Governo, hoje comandada pela ministra Flávia Arruda (PL-DF).
A PGR (Procuradoria-Geral da República) investiga se o governo tem participação no planejamento dos atos, convocados através de incitações ao fechamento do STF (Supremo Tribunal Federal) e do Congresso, além de ameaças a autoridades e de paralisação do país com uma greve de caminhoneiros.
Uma das reuniões aparece na agenda de Gabriele Araújo no dia 10, com a pauta "Movimento Brasil Verde e Amarelo". O grupo é formado por sindicatos e associações rurais que convocou, no final de maio, uma manifestação em apoio a Bolsonaro em Brasília. Entre as bandeiras do ato estava a proposta do voto impresso, rejeitada pela Câmara em agosto.
Estava presente Antonio Galvan, presidente da Aprosoja Brasil (Associação Brasileira dos Produtores de Soja) e um dos investigados no Supremo.
A Segov afirmou ao UOL através de nota que "é obrigação da Secretaria Especial de Articulação Social receber todas as organizações da sociedade civil que solicitam atendimento". A secretaria não deu mais detalhes sobre a pauta da reunião.
A agenda registra que o encontro também teve as presenças da advogada Paula Boaventura, esposa de Galvan, e de Fabrício Rosa, diretor-executivo da Aprosoja.
"Embora tenha assinado a lista, fui apenas acompanhando o presidente, que cumpriu agenda pelo Movimento Brasil Verde e Amarelo", disse Rosa.
A secretária Gabriele Araújo recebeu no dia seguinte outros três ativistas que seriam alvo da PF dias depois: Turíbio Torres, Juliano Martins e Marcos Antônio Pereira, conhecido como Zé Trovão. Os três, segundo a agenda, estavam acompanhados de Rafael Dal Bó, chefe de gabinete do deputado Nelson Barbudo (PSL-MT).
Os ativistas foram questionados pela PF sobre o teor da reunião e negaram ter havido qualquer discussão sobre os atos de 7 de setembro. Segundo disseram aos investigadores, o encontro tratou de demandas de caminhoneiros, vinculadas à CNTA (Confederação Nacional de Transportadores Autônomos).
A CNTA, no entanto, informou não ter conhecimento da reunião. "Desconhecemos a agenda referida", afirma a entidade. Sobre essa audiência, a Segov afirmou apenas que "foram discutidas pautas de interesse dos caminhoneiros".
Com informações do UOL