Na retomada dos trabalhos da CPI da Covid, nesta terça-feira (3), os senadores da base do governo e oposicionistas travaram uma discussão sobre o pedido de quebra do sigilo fiscal da Jovem Pan, que foi protocolado e depois retirado pelo senador Renan Calheiros (MDB-AM).
Durante a discussão sobre liberdade de imprensa e uma exigência de que Calheiros emitisse um pedido de desculpas, o senador Rogério Carvalho (PT-SE) pediu a palavra e revelou que o ex-ministro da Casa Civil e atual representante do Ministério da Defesa, Braga Netto, enviou oficial do exército para investigar a sua vida.
“Eu quero informar a esta CPI e a todos que estão ouvindo que eu fui surpreendido na semana passada… fu convidado por um amigo, para uma conversa e ele relatou que recebeu um oficial do exército, presta atenção Sr. Relator: um coronel do Exército, que foi ao meu estado para bisbilhotar a minha vida, para saber o que tinha para usar contra mim”, revelou o parlamentar.
Em seguida, o senador Rogério Carvalho afirmou que o emissário do exército foi ao seu estado sob o mando de Braga Netto, Ministro da Defesa.
“Eu quero dizer ao senhor Braga Netto, que foi o emissário do oficial do exército para fazer espionagem contra um parlamentar, um senador da República: eu não tenho medo, eu não abrirei mão das minhas convicções, que eu entrego a minha vida pela causa que eu defendo, ninguém vai me intimidar”, disse Carvalho.
Posteriormente, o senador Rogério Carvalho lembrou de um pedido que fez à presidência da Comissão para que fosse quebrado o sigilo telemático de Braga Netto.
“Depois dessa ameaça é o mínimo que a gente pode fazer pra dizer que essa CPI não se curva a ameaças autoritárias de um tempo que achamos que já tínhamos superado, portanto, quero fazer essa denúncia aqui, publicamente, para não deixar guardado”, destacou Carvalho.
Por fim, o parlamentar afirmou que um ministro não pode atuar em prol da defesa de um partido ou de uma ideologia específica.
“Se um dia aparecer alguma coisa, nós sabemos quem está por trás: o ex-ministro da Casa Civil, hoje ministro da Defesa do Brasil, que não está ali para defender partido político, mas para defender a Constituição e as instituições democráticas e está submetido, inclusive, a esse poder e não está autorizado a bisbilhotar a vida de nenhum parlamentar”, finalizou Carvalho.
Bolsonarismo e difamação
O presidente da CPI, senador Omar Aziz (PSD-AM), se solidarizou com o senador Rogério Carvalho e afirmou que ele também está sendo vítima de campanhas difamatórias por parte da base bolsonarista.
“Eu também fui vítima disso, aliás todos nós estamos sendo vítimas disso, na semana passada resgataram um documento dos ano 80, que eu tenho muito orgulho, da minha participação do movimento democrático, que aliás permitiu que a gente esteja aqui, não era assim, eu participei da luta pela democratização do país, pelas Diretas Já!, por uma nova Constituinte. Tenho muito orgulho e soltaram de uma forma pejorativa me chamando de 'palestino não sei o quê', me honra muito ser filho de palestino!", declarou Aziz.
Em entrevista ao Fórum Onze e Meia, o senador Omar Aziz fez um longo relato sobre a sua juventude e militância nos movimentos pela retomada da democracia e, posteriormente, no PCdoB.