O diário norte-americano The Washington Post publicou uma matéria nesta segunda-feira (16) mostrando que, embora Jair Bolsonaro ainda mantenha um significativo apoio entre os brasileiros, suas posições antivacina não são respeitadas por seus seguidores, que contrariam o discurso negacionista do presidente e seguem se imunizando.
A reportagem afirma que o país seguiu todos os passos dos EUA para falhar na campanha de vacinação, com a superpolarização política da sociedade e muita desinformação sobre a doença e seus imunizantes, citando até as investigações sobre os financiadores, na esfera econômica e política, das fake news que confundem a população.
Os repórteres Terrence McCoy e Gabriela Sá Pessoa entrevistaram um bolsonarista, Rodrigo Lucas, que se classifica como um “direitista raiz”, que apoia todas as ideias e medidas do presidente radical brasileiro, mas que não deixou de se vacinar contra a Covid-19, contrariando as orientações de seu líder.
“Numa guerra, temos que usar as armas que temos... Se em seis meses ou em um ano os laboratórios foram reconhecidos (como produtores de vacinas eficazes), temos que acreditar. Não posso ficar colocando uma teoria da conspiração em tudo", disse Rodrigo Lucas, que usa a imagem de Bolsonaro ao fundo em seu perfil do Twitter, mas correu para garantir suas doses do imunizante.
O texto lembra que o chefe de Estado brasileiro já foi infectado pelo novo coronavírus no ano passado e que a partir daí passou a defender a ideia de que apenas assim, com anticorpos produzidos pela própria doença, é que alguém se protege contra o Sars-Cov-2, informação amplamente desmentida por dados e estudos científicos, que mostram que a imunização a partir de vacinas é mais eficaz e duradoura, sem a necessidade de atravessar a contaminação, que para muitos pode ser fatal.
O histórico de eficiência em campanhas de vacinação também é mencionado pelo The Washington Post, que recordou que há uma década o país imunizou 90 milhões de pessoas em três meses contra o H1N1, não sem mencionar o mascote Zé Gotinha, símbolo da grande capacidade de imunização do Brasil.
“Precisamos levar em conta a cultura brasileira. O Brasil, desde a criação do plano nacional de vacinação em 1973, sempre teve grande confiança nas vacinas”, disse Margareth Dalcolmo, pneumologista e pesquisadora da Fiocruz ao jornal da capital dos EUA.
No entanto, a publicação ressalta que no caso da Covid-19, por conta de seu líder negacionista, que atrasou a compra das doses, o sucesso não foi o mesmo, resultando na gigantesca cifra de mortos pela Síndrome Respiratória Aguda Grava, atualmente próxima de 570 mil.