Santander não se responsabiliza por relatório que prega golpe contra Lula

Em nota, banco informou que o relatório de Victor Candido não representa a visão da instituição e que ele faz parte de uma "consultoria independente"

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Em nota enviada ao portal IG e também ao ativista e jornalista Jean Wyllys, que trouxe o caso à tona, o banco Santander informou que não se responsabiliza e que nem vai censurar o economista Victor Candido, que é ligado à instituição e que divulgou um relatório a clientes e operadores de mercado em que é feita a defesa um golpe contra o ex-presidente Lula.

No relatório divulgado por Candido, é descrito que "se o sistema político e judicial, se o establishment político brasileiro acha cômico o governo Bolsonaro, o retorno de Lula e seus aliados representa uma ameaça bem mais séria. Hoje, Lira é o presidente da Câmara, mas sob um governo do PT, seria um modesto aliado abrigado em um cargo menor".

Na sequência, o texto fala abertamente sobre um golpe de Estado: “Em suma, ninguém apoiará um golpe em favor de Bolsonaro, mas é possível especular sobre um golpe para evitar o retorno de Lula. Ele era inelegível até outro dia, por exemplo, pode voltar a sê-lo”.

Na nota de "esclarecimento", o Santander informou que "o texto citado não corresponde, sob qualquer hipótese, a uma visão da instituição, que restringe suas análises econômicas a variáveis que impactem a vida financeira de seus clientes, sem qualquer viés político ou partidário".

"O conteúdo trata-se, tão somente, de avaliação feita por uma consultoria independente - que não censuramos e por cujo teor não nos responsabilizamos -, repassada a um grupo restrito de investidores que necessitam embasar suas decisões em diferentes visões do cenário nacional", afirma ainda a instituição.

Lucro dobrado

O lucro do Santander no Brasil dobrou para R$ 4,1 bilhões no segundo trimestre de 2021, apesar da grave crise social, de saúde e econômica.

Os excelentes resultados do banco espanhol no Brasil se devem muito às atividades especulativas no mercado de dívida do Tesouro e, também, ao financiamento de grandes empresas agroindustriais dos setores de soja e carne.

Nos dois anos de Bolsonaro na presidência houve recordes de desmatamento e a destruição anual de mais de 11 mil quilômetros quadrados de floresta amazônica, além de milhares de incêndios.

Em contrapartida, durante os anos de Lula na presidência, mais de 30 milhões de brasileiros foram retirados da pobreza e o desmatamento anual caiu 80%.

Veja a íntegra da nota do economista do Santander

“Brasília, 11 de agosto de 2021 – nº 10464 

Sobre vários tipos de golpe 

Um escritor alemão advertiu que a História, quando se repete, é como farsa e, ontem, o experimento do presidente Bolsonaro para repetir 1964 terminou como farsa, com seus blindados da Guerra do Vietnã e seus generais funcionários. Não há apoio social, nem apoio do establishment, nem radicalismo de esquerda para justificar uma aventura, que terminaria de forma melancólica com algumas prisões. Por fim, não há interesse do sistema político em um regime bolsonarista. 

Dito isso, é preciso reconhecer um problema na eleição de 2022: a perspectiva de retorno ao poder da máquina de corrupção do governo Lula. Basta comparar os esquemas de corrupção do Mensalão e do Petrolão com as aventuras cômicas de reverendos e militares da reserva tentando uma comissão na compra de vacinas pelo governo Bolsonaro. Os recursos desviados pelas máquinas políticas dos governos passados ainda não apareceram. Ou seja, se o sistema político e judicial, se o establishment político brasileiro acha cômico o governo Bolsonaro, o retorno de Lula e seus aliados representa uma ameaça bem mais séria. Hoje, Lira é o presidente da Câmara, mas sob um governo do PT, seria um modesto aliado abrigado em um cargo menor. 

Em suma, ninguém apoiará um golpe em favor de Bolsonaro, mas é possível especular sobre um golpe para evitar o retorno de Lula. Ele era inelegível até outro dia, por exemplo, pode voltar a sê-lo”.

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