Em rara entrevista, o comandante da Aeronáutica, tenente-brigadeiro do ar Carlos de Almeida Baptista Junior afirmou a Tânia Monteiro, do jornal O Globo, que a nota conjunta das Forças Armadas e do Ministério da Defesa com ataques ao presidente da CPI do Genocídio, Omar Aziz (PSD-AM), é um "alerta às instituições" e frisou que "homem armado não ameaça" ao ser indagado sobre a possibilidade de um novo golpe no país.
"Não… Homem armado não ameaça. Não existe isso. Nós não vamos ficar aqui ameaçando. O presidente do Senado (Rodrigo Pacheco) foi bastante feliz na sua colocação. As autoridades precisam entender o que está por trás da autoridade. Nós precisamos entender que o ataque pessoal do senador (Omar Aziz) à instituição militar não é cabível a alguém que deseje ser tratado como Vossa Excelência. Porque nós somos autoridades. O comportamento de cada um de nós, das autoridades, exige ponderação e entendimento do todo. E essa disputa política do país é normal, mas sinto ser em tão baixo nível, em nível muito raso. Sinto que esta disputa deve ter como limite os riscos que ela pode trazer à institucionalidade do país. Essa disputa política não pode ultrapassar os limites da aceitabilidade, que começa pelo respeito às instituições, entre os Poderes. E aí estou falando em tese. Não estou dando recado para ninguém", disse ao ser colocado diante da tese de ameaça de golpe por oposicionistas do governo Jair Bolsonaro.
Na entrevista, Baptista Junior ressaltou que "nós sabemos que a nota foi dura, como nós achamos que devia ser" e "é um alerta às instituições", mas mirou "pessoalmente" o presidente da CPI que, segundo ele, teria atacado as Forças Armadas da mesma forma que já havia feito "particularmente em relação ao general (Eduardo) Pazuello (ex-ministro da Saúde), ao Elcio (Franco, ex-secretário executivo da Saúde)".
"É um alerta. Exatamente o que está escrito na nota. Nós não enviaremos 50 notas para ele [Omar Aziz]. É apenas essa", disse, ironizando a declaração do presidente da CPI, que no plenário do Senado, disse que poderiam enviar 50 notas que ele não se intimidaria.
O comandante da Aeronáutica não explica exatamente o que seria o "alerta", diz que Jair Bolsonaro (Sem partido) não participou da elaboração da nota e defendeu a presença de militares no governo, comparando com os governos FHC e Lula.
"Quando a gente olha lá para trás, para governar, o presidente Fernando Henrique trouxe quem ele conhecia, em quem ele confiava. Trouxe acadêmicos, professores, políticos, profissionais do meio dele. O presidente Lula trouxe, da mesma forma, sindicalistas. E eu não vejo nenhum problema nisso, porque quando você fala em cargo de confiança, são cargos de confiança. Não vejo como diferente do que aconteceu com o governo Bolsonaro. O presidente Bolsonaro trouxe para o governo, em sua maioria militares da reserva, que podem atuar como qualquer cidadão. E uma minoria da ativa, que é autorizada pela legislação vigente a ocupar cargos de natureza civil por até dois anos", afirmou.
Por fim, Baptista Júnior voltou a atacar Aziz "pelo que ele está fazendo com Pazuello" após ressaltar que Roberto Dias, ex-diretor de Logística do Ministério da Saúde que é pivô da investigação sobre corrupção na compra de vacinas, "pediu demissão da Força Aérea em 2009".
"Eu não estou dizendo que o rapaz tem ou não culpa. Acho que o processo tem de chegar às conclusões. Só que, o presidente de uma CPI, prematuramente, fazer julgamentos de oficiais, e a gente está vendo ele fazer isso com o Pazuello, um general da ativa, isso é muito desagradável e não podemos aceitar".