A visita ao presidente Jair Bolsonaro feita pela deputada alemã Beatrix von Storch, líder do partido extremista AfD (Alternativa para a Alemanha), que tem notórias ligações com grupos neonazistas, e que é neta do ministro de Finanças do regime genocida de Adolf Hitler, causou indignação em entidades e personalidades da comunidade judaica brasileira.
O coletivo Judeus Pela Democracia postou uma nota de repúdio em seus perfis nas redes sociais, relembrando que a deputada extremista já havia sido recebida por outras importantes figuras da base de apoio do governo federal.
“Pela 3ª vez em dias a VP do partido extrema-direita alemão aparece com governistas brasileiros: presidente da CCJ, filho do presidente e agora o PRESIDENTE DO BRASIL posam sorrindo e citando semelhanças com o partido xenófobo alemão. Sem rodeios: nazistas”, protestou o JPD.
A reportagem da Fórum entrou em contato com o presidente da Confederação Israelita do Brasil (Conib), Cláudio Lottenberg, pedindo para que comentasse o episódio. Ele limitou-se a encaminhar uma breve nota, falando pela entidade.
O texto, no entanto, não menciona o nome de Jair Bolsonaro. Vale lembrar que Lottenberg foi um dos organizadores de um polêmico jantar para o presidente extremista em abril deste ano, do qual participaram outras figuras proeminentes da comunidade judaica de São Paulo.
O encontro gerou um grande mal-estar entre os judeus brasileiros, que em grande parte criticaram não só Lottenberg, mas também Davi Safra, um dos herdeiro do espólio bilionário do banqueiro Joseph Safra, por recepcionarem um homem que flerta abertamente com regimes autoritários de extrema direita e que manteve em seu gabinete figuras como Roberto Alvim, ex-secretário Nacional de Cultura, que reproduziu um discurso de Joseph Goebbels, o mentor da propaganda nazista, e Filippe Martins, assessor especial da Presidência que fez um gesto de supremacistas brancos em pleno Senado Federal, além de já ter postado frases atribuídas a Hitler.
“A Conib lamenta a recepção dada a representante do partido Alternativa para a Alemanha (AfD) em Brasília. Trata-se de partido extremista, xenófobo, cujos líderes minimizam as atrocidades nazistas e o Holocausto. O Brasil é um país diverso, pluralista, que tem tradição de acolhimento a imigrantes. A Conib defende e busca representar a tolerância, a diversidade e a pluralidade que definem a nossa comunidade, valores estranhos a esse partido xenófobo e extremista", diz a mensagem encaminhada à Fórum pelo presidente da Conib.
Quem também repercutiu o encontro entre Beatrix von Storch com o presidente da República foi um dos coordenadores do Judeus Pela Democracia, Guilherme Cohen. Ele afirma que a simpatia de Bolsonaro pelo Nazismo não é algo inédito, mas que a foto com a líder ultrarradical, sorrindo, ultrapassa o limite de tudo que ele já fez em relação ao assunto até agora.
"Não é novidade os instintos nazistas do governo Jair Bolsonaro. Entretanto, a foto do próprio presidente da República com Beatrix von Storch, deputada alemã e neta de um ministro de Hitler, ultrapassa mais uma vez o limite do razoável. Bolsonaro precisa ser afastado do cargo por todos os seus crimes de responsabilidade e também por seu apoio macabro a um dos regimes mais cruéis da história", denunciou.
O historiador e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Michel Gherman, que é coordenador do Núcleo de Estudo Judaico da UFRJ, foi outro que se indignou com a recepção presidencial a uma figura claramente ligada ao Nazismo e a organismos políticos ultrarreacionários na Europa.
“Bolsonaro saiu do armário. Ele continua mexendo com a bandeira de Israel e faz isso com dois sentidos. No primeiro deles é pra higienizar sua imagem, porque cada vez mais ele está se aproximando de antissemitas, como quem diz 'não posso ser nazista, porque eu gosto de Israel', mas há também uma segunda dimensão que é muito importante, que é a dimensão ideológica: Bolsonaro se aproxima do 'Israel Imaginário', que é daquele judeu branco, cristão, ultracapitalista e armado. E essa concepção de um judeu imaginário, de um Israel Imaginário, tem por objetivo excluir o judeu histórico. E cria essa coisa de que ele pode ser ao mesmo tempo antissemita e filossemita", explica Gherman.
Para o historiador, é inconcebível que comunidade judaica brasileira não perceba a relação que Bolsonaro estabelece com elementos do Nazismo.
"É tudo muito trágico, pois Bolsonaro sai do armário, se aproxima efetivamente dos nazistas originais, mas ainda assim, o que é ainda mais trágico é que setores da comunidade judaica têm dificuldades de entender isso. Esse é, talvez, um caso inédito no mundo. Nós temos setores importantes e centrais da comunidade judaica que não conseguem perceber um nazista, nem mesmo quando estão de frente pra um... E se seduzem com o charme do perfume barato do Israel Imaginário no cangote de um fascista", finalizou.