O PM da ativa da cidade de Alfenas (MG) Luiz Paulo Dominguetti, a partir de mensagens trocadas pelo WhatsApp, cita o então ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, que teria demonstrado interesse em adquirir lotes de vacinas.
Cabe lembrar que o celular de Dominguetti foi apreendido pela CPI do Genocídio e o UOL teve acesso a algumas conversas que revelam mais bastidores das negociações.
Dessa maneira, Dominguetti, que se apresentava como representante da Davati Medical Supply, esteve em contato com agentes do Ministério da Saúde para oferecer lotes da AstraZeneca.
Todavia, a farmacêutica inglesa tem afirmado constantemente que não trabalha com intermediários.
Vacinas, euforia e frustração
As mensagens onde o nome de Pazuello é citado datam de 23 fevereiro deste ano. O policial conta para o seu pai, Paulo César Pereira, que tinha participado de reuniões na sede do Ministério da Saúde.
Como se sabe, a Davati, empresa que é investigada nos EUA e Canadá por fraudar vendas de vacinas, tentava vender um lote com 400 milhões de doses da AstraZeneca.
Mas as negociações não avançaram depois que o ex-diretor de logística do ministério, Roberto Dias, pediu propina de US$ 1 por dose vendida, isso segundo relato de Dominguetti.
Após ser demitido da Saúde, Dias negou todas as acusações. Durante o seu depoimento na CPI, ele teve voz prisão dada pelo presidente da comissão, o senador Omar Aziz (PSD-AM).
De acordo com as mensagens de Dominguetti, o interesse de Pazuello pelo suposto lote oferecido pela Davati se deu durante as primeiras tratativas.
Dessa maneira, não está claro se o interesse do então ministro da Saúde é pelo lote de 400 milhões de doses de AstraZeneca ou se, à época, era outro imunizante que estava em negociação.
Vacina e propina
As primeiras trocas de mensagens entre Dominghetti e o seu pai datam entre 16 e 26 de fevereiro, mas, em nenhum momento o PM comenta sobre o pedido de propina.
Ele confirma que, assim como foi dito na CPI, o coronel Marcelo Blanco era o intermediador das negociações.
No dia 23 de fevereiro, Diminghetti relata ao pai que esteve em uma reunião no Ministério da Saúde e que a finalização da compra estava perto de ser concluída.
Algumas horas depois Dominghetti volta a escrever para o pai e afirma que foi “chamado pelo Ministro Pauzuello", o pai responde animado e lembra o filho: "não esqueça, somos todos Bolsonaro!".
Posteriormente, o pai de Dominghetti comenta sobre o interesse de Pazuello e o PM responde que o então ministro da Saúde "vai fazer uma proposta comercial para o segundo semestre".
Dois dias depois das trocas de mensagem, em 25 de fevereiro, é quando acontece a reunião com Roberto Dias e teria sido neste encontro que Dias teria pedido a propina de US$ 1.
Todavia o pedido de propina não aparece nas mensagens que Dominghetti trocou com o pai no mesmo dia da reunião com Dias.
Pelo contrário, ele comemora o jantar que teve com o "secretário executivo que assina os contratos".
Quando depôs na CPI, Dominghetti revelou que ficou chocado com o pedido de propina durante o jantar feito por Dias.
Todavia, não foi este o sentimento que ele repassou ao pai.
Ao seu pai, Dominghetti escreveu que "o Ministério é nosso" e "500 milhões", se referindo a quantidade de doses que teriam sido negociadas com Dias.
Na sequência, o PM também comenta sobre a doação de 20 milhões de doses de seringas.
Segundo Cristiano Carvalho, representante oficial da Davati, a doação nunca aconteceu.
Mas as negociações não avançam e o negócio não é fechado.
O reverendo e 400 milhões de vacinas
Posteriormente, surge um novo personagem que visa retomar as negociações com o representante da Davati: o reverendo Amilton Gomes de Paula.
Por sua vez, o reverendo revela interesse na compra de 400 milhões de doses da AstraZeneca, segundo Dominghetti.
O reverendo deve depor em agosto na CPI.
No dia 12 de março, Dominghetti volta a escrever ao pai e afirma que tem uma reunião no Ministério da Saúde.
Mas, dessa vez, seria negociado um lote de 200 milhões de doses do imunizante.
Segundo relatos de Dominghetti à CPI, ele esteve três vezes no Ministério da Saúde e teve reunião com três membros do alto escalação da Saúde.
São eles: Roberto Dias, Élcio Franco e Lauricio Monteiro Cruz. Os três não trabalham mais no ministério.