Em conversa com apoiadores no "cercadinho" do Palácio da Alvorada no final da tarde desta sexta-feira (2), o presidente Jair Bolsonaro afirmou que teve um encontro com William J. Burns, diretor da CIA, agência de inteligência dos Estados Unidos.
Burns chegou ao país na quinta-feira (2) e teve audiência e jantar com o ministro do Gabinete de Segurança Institucional, general Augusto Heleno. O encontro constava na agenda oficial do ministro, mas a pasta não deu detalhes sobre a pauta da reunião quando foi questionada pela Fórum.
Já a agenda oficial de Bolsonaro não fazia qualquer menção a reunião com o chefe da CIA, cuja presença no Brasil não foi divulgada previamente pelas autoridades do Brasil e dos EUA.
"Hoje recebi o chefe da CIA, conversei muito com ele, reservadamente. Ninguém vive mais isolado, nem vocês. É bom interagir com o vizinho. Interajo com vários países aqui", disse o presidente.
Na sequência, sugeriu, sem dar detalhes, que a pauta do encontro foi política e segurança na América do Sul, atacando países vizinhos. "Não vou dizer que isso foi tratado com ele, mas a gente analisa na América do Sul como estão as coisas. A Venezuela a gente não aguenta falar mais, mas olha a Argentina. Para onde está indo o Chile? O que aconteceu na Bolívia? Voltou a turma do Evo Morales. E mais ainda: a presidente que estava lá no mandato tampão está presa, acusada de atos antidemocráticos. Estão sentindo alguma semelhança com o Brasil?", disparou.
Encontro secreto
Na parte da tarde de quinta-feira (1), o chefe da CIA participou de uma audiência com o ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Augusto Heleno. Estiveram também presentes no encontro Alexandre Ramagem, diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência e Walter Braga Netto, ministro da Defesa.
Na parte da noite, Burns participou de um jantar com Heleno e com o ministro da Casa Civil, Luiz Eduardo Ramos.
Fórum entrou em contato com a assessoria de imprensa do Gabinete de Segurança Institucional questionando qual foi a pauta da audiência e do jantar, mas a pasta disse que não fornecerá o conteúdo dos encontros, se limitando a informar que foi “uma visita de cortesia”.
Já a assessoria de imprensa da Casa Civil, também questionada pela reportagem, respondeu apenas que Luiz Eduardo Ramos participou do jantar com Burns, sem fornecer qualquer detalhe do evento.
Maduro fala em “plano contra a Venezuela”
Antes de vir ao Brasil, o diretor da CIA esteve na Colômbia, país que faz fronteira com a Venezuela. Quem também esteve na Colômbia no último mês foi o chefe do Comando Sul dos Estados Unidos, almirante Craig Faller.
Em pronunciamento na noite desta quinta-feira (1), o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, citou a “tour” das duas autoridades estadunidenses pela região e falou em “plano contra a Venezuela”.
“O comandante do Comando Sul e o chefe da CIA estão rondando, circulando a Venezuela, e são recebidos como heróis na Colômbia, no Brasil, para fazer planos contra vocês”, disse o chefe de estado à população de seu país.
“Lá na Colômbia estava o comandante do comando sul, Craig Faller, e eles me disseram que recentemente o diretor da CIA também esteve. Eles estão trabalhando em algum plano secreto para prejudicar a Venezuela”, afirmou ainda.
Deputado vai entrar com requerimento de informações
O deputado federal Glauber Braga (PSOL-RJ) informou que vai entrar formalmente com um pedido de informações nos ministério da Casa Civil e GSI para que sejam fornecidas informações sobre o encontro com o diretor da CIA.
À Fórum, o parlamentar disse ainda que vai entrar com pedido de convocação para que ambos os ministros prestem esclarecimentos à Comissão de Relações Exteriores da Câmara.
“A presença do diretor da CIA em encontro clandestino com os ministros militares de Bolsonaro cheira muito mal. Que temas foram tratados?”, questionou o psolista.