Apoiador de Jair Bolsonaro, Edivaldo Brischi (PTB), prefeito de Monte Mor, está expulsando moradores da cidade do interior paulista com sua política de "revitalização" do centro.
Em vídeo divulgado nas redes sociais na última quarta-feira (14), Brischi se antecipou às críticas dizendo que não vai deixar a cidade "virar um lixo".
"Fiquem bravo comigo, pode ficar bravo, mas agora tem prefeito essa cidade. Tem que cuidar (…) Ontem foram seis viagens. Foram embora para Rio das Pedras, Bauru, Campinas, São Paulo, Orquídeas (…) Pessoas do bem, me ajudem, me apoiem nessa ação. Tem muita gente metendo louco no Edivaldo, metendo louco no prefeito. Só que eu não aguento mais reclamação, e não posso ver minha cidade virar um lixo", disse.
No vídeo, o prefeito Edivaldo Antônio Brischi ainda pede para que os moradores deixem de auxiliar pessoas em situação de rua, e procurem a Assistência Social do município para fazerem suas doações.
"Moradores de Monte Mor, se vocês quiserem ajudar alguma pessoa, ajudem um pai de família. Por favor, quando você quiser fazer uma ação, procure a Assistência Social e leve o que você quiser doar. A Assistência Social vai dar o destino certo para esses alimentos, e não ficar fomentando coisas erradas no nosso município", emendou.
Na quinta-feira (15), os moradores em situação de rua procuraram a delegacia para informar que foram procurados pelo prefeito e colocados dentro de uma van para serem enviados para cidades da região.
Em publicação nas redes sociais no dia 28 de janeiro, o prefeito publicou foto do presidente estadual do PTB, Chico Galindo, com Jair Bolsonaro no Planalto.
"Na foto o Presidente Estadual de São Paulo, do PTB, entrega nas mãos do Presidente Bolsonaro a nossa reivindicação para implantação de uma Escola Civico-militar. Não mediremos esforços para tornar realidade está importante conquista para as crianças e jovens da nossa cidade”, publicou o prefeito com a hashtag "deixaohomemtrabalhar"
Em nota, a Associação dos Geógrafos Brasileiros — Seção Campinas repudiou o projeto de "revitalização" conduzido pelo prefeito.
"O alcaide, empresário do setor de eventos filiado ao reacionário PTB e eleito em 2020 com 27,69% dos votos válidos, foi acusado de participar diretamente nesta semana de uma abordagem da população em situação de rua próximo ao Terminal Rodoviário de Monte Mor. Cerca de dez pessoas, sob ameaça, foram removidas para Boituva, a 70 quilômetros de distância", conta a associação.
"Repudiamos com veemência seu posicionamento higienista, carregado de preconceito, que se refere à população em situação de rua de maneira pejorativa — “Não posso ver minha cidade virar um lixo” —, em contraposição à defesa de “pais de família”, de “pessoas do bem” e, óbvio, dele próprio, diz ainda a nota.
Leia a íntegra
Nota de repúdio às ações higienistas do prefeito de Monte Mor
A Associação dos Geógrafos Brasileiros — Seção Campinas vem a público manifestar seu repúdio diante das recentes ações e declarações de Edivaldo Antônio Brischi, prefeito de Monte Mor, município da Região Metropolitana de Campinas com população estimada de 60,7 mil habitantes (IBGE, 2020).
O alcaide, empresário do setor de eventos filiado ao reacionário PTB e eleito em 2020 com 27,69% dos votos válidos, foi acusado de participar diretamente nesta semana de uma abordagem da população em situação de rua próximo ao Terminal Rodoviário de Monte Mor. Cerca de dez pessoas, sob ameaça, foram removidas para Boituva, a 70 quilômetros de distância.
Chama a atenção, além do caso em si, já suficientemente grave, a reiterada conduta do chefe do Executivo, manifestada em uma live veiculada em seu perfil no Facebook às 7 horas da manhã do dia 14 de julho. Na gravação, tentativa de espetacularização de seus atos administrativos, ele revela sua face autoritária e a inépcia para ocupar o cargo para o qual foi eleito.
Repudiamos com veemência seu posicionamento higienista, carregado de preconceito, que se refere à população em situação de rua de maneira pejorativa — “Não posso ver minha cidade virar um lixo” —, em contraposição à defesa de “pais de família”, de “pessoas do bem” e, óbvio, dele próprio.
Em certo momento, ele sobe o tom de voz e até tira a máscara, para dizer: “A partir de hoje, moçada, eu vou começar a mostrar como se governa uma cidade. Fiquem bravos comigo. Pode ficar bravo. Mas agora tem prefeito, essa cidade”, em flagrante contradição com seu plano de governo, que prevê “capacitar os atores da política pública de assistência social, a fim de assegurar a melhoria do atendimento, considerando-se todas as instâncias e a realidade local”. O que se sabe é que seu modo de governar o levou a indicar a própria primeira-dama, a sra. Elaine Ravin Brischi, que também aparece na live, para o cargo de secretária municipal de Desenvolvimento Econômico e Social, com salário de R$ 9,8 mil.
Além disso, o próprio prefeito admitiu que havia determinado, no dia anterior, ainda que não tenha sido comprovado, a realização de “seis viagens” — além de Boituva, para Rio das Pedras, Bauru, Campinas, São Paulo e Orquídeas (sic) —e prometeu enviar outras duas pessoas, ainda, para Itararé e São Rafael (sic). Para ele, a expulsão da população em situação de rua é justificada pela proposta de “revitalização” do entorno da Rodoviária, com obras modestas, naquele quarteirão, de paisagismo e de iluminação pública. Mais adiante, no vídeo, ele dialoga com Elio Braz Borgo, chefe de geração de emprego e renda do município, ex-filiado ao Republicanos —, que explica que a cidade, que está sendo “revitalizada”, tem que estar bonita e se espelhar na vizinha Indaiatuba. O prefeito continua argumentando, antes de encerrar a filmagem, que uma cidade “limpa” e “organizada” atrai investimentos privados de empresários.
A revitalização de espaços públicos como recurso para valorização imobiliária ou como instrumento de city marketing tem justificado, em diversas situações geográficas, violações de direitos, segregação e até mesmo o desaparecimento de indivíduos pertencentes a grupos sociais excluídos do processo de planejamento territorial. Na condição de geógrafas e geógrafos, lamentamos e repudiamos a postura autocrática e arrogante do prefeito de Monte Mor diante de suas responsabilidades. Sua conduta personalista, patrimonialista e popularesca conflita com as atribuições do Serviço Especializado em Abordagem Social e do Serviço Especializado para Pessoas em Situação de Rua do Centro de Referência Especializado de Assistência Social do município e com a Política de Assistência Social do Município de Monte Mor (Lei 2776 de 15 de setembro de 2020), e ignora os avanços das últimas décadas nas políticas públicas do Sistema Único de Assistência Social, que ele deveria defender e aprimorar, por meio da Secretaria ora chefiada por sua cônjuge, no município sob sua gestão.
Campinas, 16 de julho de 2021.
Diretoria Executiva Local da Associação dos Geógrafos Brasileiros — Seção Campinas