A médica e diretora da Anistia Internacional no Brasil, Jurema Werneck, comentou sobre os ataques sofridos por ativistas e pesquisadores no país no último período ao ser questionada pelo senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) na CPI do Genocídio. Em depoimento, Werneck afirmou que 40% das mortes causadas pela Covid-19 poderiam ter sido evitadas e que é preciso responsabilizar os agentes públicos por essas perdas.
"Sou fundamentalmente uma ativista. Na minha posição de ativista, de diretora-executiva da Anistia Internacional, a gente experimenta - e não somos só nós, não é só o dr. Pedro Hallal - um processo insistente de tentativa de silenciamento da informação, da verdade real. Isso não começou com a pandemia, já vem de um tempo"
"A realidade mostra que essas tentativas de silenciamento não estão sendo bem sucedidas, mas causam desconforto. Não haverá silenciamento de nossa parte", completou. Werneck enfatizou que muitos dos ataques que sofre tem um cunho "terrivelmente racista e sexista". "Isso é lamentável em um Brasil de todo mundo", disse ainda.
"Como ativistas e pesquisadores não estamos buscando unanimidade ou aprovação, mas o direito de participar da sociedade. Então, sim, senador, os ataques acontecem, são lamentáveis. Eu vim de uma cidade que ficou mundialmente conhecida pelo assassinato de uma ativista, Marielle Franco, e até hoje não temos respostas de quem mandou matar Marielle e porque. É preciso que as autoridades tomem as medidas necessárias para garantir o direito ao ativismo no Brasil que contrarie àquele chamado na campanha eleitoral de que iriam acabar com todo o ativismo no Brasil", afirmou, lembrando da vereadora assassinada Marielle Franco e de declarações do presidente Jair Bolsonaro.
Na sequência, epidemiologista Pedro Hallal, que também presta depoimento à comissão, disse que "todos os ataques sofridos por ele estão sendo investigados" e que sofreu diretamente com a base bolsonarista. "O próprio presidente da República tuitou um ataque contra mim, mas isso não vai me silenciar de omitir minha opinião científica, embora eu sabia que vir aqui emitir minha opinião científica tenha um custo pessoal bastante grande", declarou.
"Eu fui formado com recursos públicos, sou filho da universidade pública e não tenho o direito de ficar calado diante dos ataques", completou. Hallal disse que sua esposa chegou a ter o carro perseguido e que isso está sendo apurado na Delegacia da Mulher.