Logo após o Senado aprovar, por maioria, a Medida Provisória (MP) 1.031, apresentada pelo governo Bolsonaro, que permite a privatização da Eletrobras, nesta quinta-feira (17), senadores de oposição garantiram que vão continuar lutando contra a proposta e que, para isso, vão acionar a Justiça.
"Vou entrar com ação no Supremo Tribunal Federal para reverter a ilegalidade que foi cometida hoje no Senado na votação da privatização da Eletrobras. Um absurdo que não pode passar em branco", anunciou, pelas redes sociais, o senador Cid Gomes (PDT-CE).
"O Senado cometeu uma afronta à Constituição. Decidiu privatizar a Eletrobras através de uma medida provisória, que exige relevância e urgência. A MP apresentada pode até ser relevante, mas não urgente. E sequer houve tempo para discutir questão tão importante para o País", completou o pedetista.
Líder da Minoria no Senado, Jean Paul Prates (PT-RN) reforçou: "Nossa luta em defesa da Eletrobras não se encerra aqui! Junto com outras lideranças, iremos entrar com um processo de judicialização para barrar mais esse crime de Bolsonaro à soberania nacional!".
Luz mais cara
O plenário do Senado, por maioria, aprovou na tarde desta quinta-feira (17) a Medida Provisória (MP) 1.031, apresentada pelo governo Bolsonaro, que permite a privatização da Eletrobras. Ao todo, foram 42 votos a favor do texto principal da MP e 37 contrários.
Como o texto que havia sido aprovado na Câmara foi modificado pelo Senado, a proposta deverá ser analisada novamente pela outra casa legislativa em votação prevista para acontecer na próxima semana. Saiba como foi a votação na Câmara aqui.
A principal justificativa do governo ao querer privatizar a maior empresa de energia elétrica da América Latina é que isso reduziria a conta de luz, argumento que é rechaçado por entidades do setor elétrico. Levantamento divulgado em maio pela Associação dos Grandes Consumidores Industriais de Energia e de Consumidores Livres (Abrace) aponta que a conta de luz, caso a privatização da estatal seja confirmada, vai aumentar em até 20%.
“Lutamos para que a MP da Eletrobras fosse rejeitada integralmente e pedimos ao governo pra bater o escanteio de novo, pra começar direito, com um projeto de lei que pudesse ser discutido nas Comissões e com a presença de todos os envolvidos. Mas, o Senado preferiu aceitar esse abacaxi indigesto servido pelo governo e que prejudicará milhões de famílias com o aumento da conta de luz e prejuízos ao meio ambiente. A luta continua pela defesa de nossas estatais!”, afirmou o líder da Minoria, senador Jean Paul Prates (PT-RN).
Saiba como votou cada senador aqui.
Denúncia de compra de votos
Senadores do campo de oposição ao governo do presidente Jair Bolsonaro denunciaram durante a sessão desta quinta-feira (17) que o Planalto estaria fazendo adaptações no texto da MP da Eletrobras para “comprar” votos de senadores que não iriam aderir à proposta.
“Tornaram essa matéria urgente e, em nome disso, estão fazendo absurdos. Não permitamos o que está se fazendo à sombra da noite, nesta madrugada, de troca de voto, de compra de voto. Compra de voto, é isso que aconteceu! Foram 2 mil megawatts para Goiás, foram R$ 700 milhões para o Piauí, 2 mil megawatts para o Rio de Janeiro… É isso que vai permitir que nós aprovemos e sejamos desmoralizados pelo Supremo Tribunal Federal?”, declarou Cid Gomes (PDT-CE).
O relator, senador Marcos Rogério (DEM-RO), fiel aliado de Bolsonaro, fez diversas modificações no texto final nas últimas 24h.
Cid fez ainda uma contagem de votos durante se discurso, colocando PT, PDT, Rede, Podemos, PSDB e MDB contra o projeto e cobrando uma posição contrário do PSD. “É o PSD que vai decidir essa votação”, avaliou.
Esse troca-troca de megawatts e energias também foi criticado pelo senador Jean Paul Prates (PT-RN), líder da Minoria. “Eu estou até nervoso aqui, porque eu estou a ponto de dizer assim: olha, eu não sei que imagem passa o Senado numa situação dessa, a xepa energética. Botaram o carvão, tiraram o carvão, botaram o gás para cá, gás para lá. Não dá, não é possível fazer isso sem estudo de impacto tarifário, sem estudo de viabilidade dessas térmicas”, afirmou.
“Não podemos fazer a irresponsabilidade de fazer essa quermesse aqui, de megawatt para cá, megawatt para lá. Isso é absurdo”, apontou o parlamentar, que afirmou que as mudanças não foram feitas com os devidos estudos de impacto.