Em seu depoimento na CPI da Pandemia, o ex-governador do Rio de Janeiro Wilson Witzel disse que o senador Flavio Bolsonaro (Patriotas-RJ) poderia ficar na comissão porque ele não se intimidaria. “Não sou porteiro para ser intimidado”, disparou.
Witzel também falou que passou a sofrer retaliação do governo federal após ser acusado de interferência na Polícia Civil do Rio de Janeiro por causa das investigações sobre o assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL) e seu motorista, Anderson Gomes. “A partir daquele momento, do caso Marielle, percebi que o governo federal e o próprio presidente começaram me retaliar. Tivemos dificuldade de conversar com ministros.”
Mas por que Witzel se referiu a porteiro e ainda citou Marielle? E ainda acusou o ex-juiz e ex-ministro da Justiça de Bolsonaro, Sergio Moro, de ser “menino de recado” e disse que ele chamava Bolsonaro de “chefe”?
Em novembro de 2019, o porteiro do condomínio Vivendas da Barra, no Rio de Janeiro, disse que o ex-PM Élcio Queiroz foi liberado a entrar pelo “Seu Jair”, da casa 58 – onde mora Jair Bolsonaro – no dia do assassinato de Marielle e Anderson.
Élcio de Queiroz foi preso acusado de ser o motorista do carro de onde partiu os tiros contra Marielle. Ronnie Lessa, que também morava no condomínio Vivendas da Barra, também foi preso e é acusado de ter feito os disparos que mataram Marielle e Anderson. Lá também moravam, na época da execução, o então deputado Jair Bolsonaro e seu filho Carlos.
Após a declaração do porteiro, o presidente acionou Moro e acusou Witzel de querer desgastá-lo porque queria concorrer as eleições em 2022. "Estou conversando com o ministro da Justiça para a gente tomar, via Polícia Federal, um novo depoimento desse porteiro pela PF para esclarecer de vez esse fato, de modo que esse fantasma que querem colocar no meu colo como possível mentor da morte de Marielle seja enterrado de vez", disse Bolsonaro no meio de uma viagem internacional, de Riade, capital da Arábia Saudita.
Dias depois de dar seu depoimento, o porteiro voltou atrás e disse que teria anotado errado no caderno de registros o número da casa que Élcio iria, em vez de escrever casa 65, anotou “58”, a de Jair Bolsonaro.
Após a polêmica da mudança do depoimento, o filho de Jair Bolsonaro, Carlos, vereador do Rio de Janeiro, divulgou um vídeo com imagens de um computador com o que ele alegava serem arquivos de áudio das conversas entre a portaria e as casas do condomínio. Um dos registros mostrava que às 17h13 um homem identificado como Elcio pedia para ir à casa 65, onde vivia Ronnie Lessa.
Em fevereiro de 2020, um laudo assinado por seis peritos da Polícia Civil afirmou que a voz que tinha liberado a entrada do acusado de matar Marielle em condomínio não é do porteiro que disse ter falado com Bolsonaro.
Agora o porteiro voltou à tona, após o depoimento de Witzel na CPI e o termo já está entre os mais comentados nas redes sociais.
"Witzel pede para sair e sessão do Senado é encerrada. Entraram pra intimidar na briga de milícias Flavio Bolsonaro e Helio Negão. A afirmação mais impactante de Witzel foi sobre Moro, que teria interferido nas investigações sobre Marielle a pedido do chefe. É crucial ir a fundo", disse o deputado federal Ivan Valente (PSOL-SP).
"Devatasor. Agora Witzel diz que o governo federal, através de Sérgio Moro, coagiu o porteiro a mudar o depoimento em que mencionava Bolsonaro no inquérito sobre o assassinato de Marielle", afirmou o deputado federal Orlando Silva (PCdoB-SP).
Para a irmã de Marielle, Anielle Franco, é preciso lembrar quem é Witzel, que quebrou a placa em homenagem a sua irmã na campanha de 2018 (foto). "Na hora de apoiar a quebra da placa não colocou a culpa na minha irmã… Subiu, fez charminho, riu e achou lindo! Agora quer usar o nome dela de escudo? Assuma seus atos, Wilson Witzel. Eu, heim! Nos poupe de passar ainda mais raiva nesse país!”