Fundador e membro da direção nacional do Movimento Sem Terra (MST), João Pedro Stedile afirmou que ainda existem mais de 4 milhões de famílias no campo que gostariam de ter terra no Brasil, mas que o movimento paralisou as ocupações temendo a violência do governo Jair Bolsonaro contra essas pessoas.
"Quando você não resolve um problema social, não significa que ele desapareceu. O capitão insano que está aí vive dizendo: 'Viu como não tem mais ocupação?'. Mas não significa que não há mais sem-terra. Ainda existem no Brasil 4 milhões de famílias no campo que gostariam de ter terra. E que não são loucas de fazer ocupação, de virar bucha de canhão para a polícia, para esses insanos que estão aí. A luta para a massa camponesa está difícil. Assim como para o operário da cidade está difícil fazer greve", afirmou em entrevista à Folha de S.Paulo nesta terça-feira (4).
Na entrevista, Stedile culpou diretamente a Globo, como "espelho" da burguesia, pela eleição de Bolsonaro - "porque não queria o PT" - e que agora a elite não sabe o que fazer com Bolsonaro: se derruba ou o deixa "definhar" para enfrentar Lula nas eleições de 2022.
"Nas circunstâncias em que estamos vivendo, de crise econômica, social e sanitária, só uma coisa pode tirar o Bolsonaro de lá: a burguesia. A burguesia percebeu que o Bolsonaro é um insano e não tem viabilidade, mas não decidiu ainda derrubá-lo porque a devolução dos direitos políticos do Lula colocou um bode na sala. O Lula está no segundo turno. A burguesia agora está pensando se é melhor deixar que o Bolsonaro vá definhando enquanto ela encontra um nome de confiança, que eles estão chamando de terceira via, ou se é melhor derrubar logo o Bolsonaro, passar um ano e meio com o [vice Hamilton] Mourão e aí disputar eleições. Acho que a burguesia ainda não chegou a uma decisão de qual tática é melhor. Está atordoada, confusa e dividida, entre uma direita burra, que ainda aposta tudo no Bolsonaro, e uma direita gourmet, que está envergonhada dele e ainda não criou coragem para tirá-lo. Se fosse com a Dilma, ela já teria sido crucificada, não é nem afastada", disse.
Stedile afirmou ainda que essa mesma burguesia pode apoiar Lula, caso não encontre uma candidatura competitiva na "terceira via".
"Sim, se não viabilizar um terceiro nome com estatura. O Lula estará no segundo turno e se desenha como uma unanimidade, ampliando suas bases. Acho que o necessário para sairmos deste calvário é afastar logo o Bolsonaro, salvar vidas e ajudar as pequenas empresas".
O líder do MST afirmou ainda que o movimento "já está em campanha por Lula".
"Não vamos negociar com ninguém apoio. Nós já estamos em campanha pelo Lula, não precisa vir eleição. O Lula é o principal e único líder popular que pode tirar este país desta merda que está. Nenhum outro líder consegue falar com banqueiro e cooperativa de reciclador. Só ele. Quando ele ganhar, nós não queremos cargo. O que vamos levar para o governo é o nosso plano, de uma agricultura familiar camponesa, que tenha como paradigmas produção de alimentos saudáveis para todo o povo, distribuição de terra, implantação de agroecologia, educação no campo".