Um dos médicos enviados a Manaus pelo Ministério da Saúde, em janeiro deste ano, para difundir o uso de medicamentos sem eficácia contra a Covid-19, foi convidado pela Secretaria de Segurança Multidimensional da OEA, chefiada pelo ex-assessor especial de Jair Bolsonaro, Arthur Weintraub, para ser um assessor especialista. Segundo informações do jornalista Samuel Pancher, do Metrópoles, o médico teria usado o convite para dar credibilidade à sua defesa do chamado "tratamento precoce" contra a doença.
Ao lado da médica pediatra Mayra Pinheiro, a "Capitã Cloroquina", o infectologista Ricardo Zimerman esteve em Manaus no momento em que a cidade enfrentava o seu pior momento na pandemia, com escassez no fornecimento de oxigênio para atender pacientes com Covid-19.
Naquele momento, no dia 11 de janeiro, o Ministério da Saúde chegou a apresentar um Plano Estratégico de Enfrentamento da Covid-19 no Amazonas. O ex-ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, afirmou à CPI da Covid-19 que foi informado sobre a falta de oxigênio na capital amazonense no dia 10 janeiro, um dia antes do evento da pasta na cidade.
Em vídeo compartilhado nas redes sociais pelo Metrópoles, Ricardo Zimerman aparece defendendo o chamado "tratamento precoce" contra a Covid-19 no evento do Ministério da Saúde. Em seu discurso, ele alega que o uso de hidroxicloroquina pode "tirar a cidade do colapso".
"O uso de hidroxicloroquina diminuiu em 21% a mortalidade. Ou seja, se vocês conseguirem reduzir o número de pacientes que são internados, ou que são internados em UTI, vocês podem tirar a cidade de vocês do colapso. Ou evitar que ela entre em colapso. Esse é o racional do tratamento", afirma Zimerman.
"Eu tenho certeza que, com as ferramentas que estão chegando, vocês vão poder fazer o melhor para a sociedade, e vão poder tornar Manaus um exemplo a ser seguido", completa o médico.
Mayra Pinheiro então reforça que o uso dos medicamentos fazia parte da estratégia do Ministério da Saúde no combate à pandemia. Na CPI, a médica confirmou que o governo de Jair Bolsonaro orientou o uso de cloroquina em Manaus enquanto a capital amazonense enfrentava seu pior momento na pandemia.
"Com medicamentos que nós dispomos no sistema único de saúde, azitromicina como componente da assistência básica, nós temos a hidroxicloroquina sendo produzida pelo laboratório do SUS, nós temos a ivermectina como componente da atenção básica, nós temos a nitazoxanida de baixo custo", afirma a médica.
"O tratamento precoce proposto pelo Ministério da Saúde para tratamento da Covid-19 custa hoje para nós R$ 67 por paciente, com medicações seguras e eficazes. Um dia de internamento na UTI custa para nós R$ 1.600", completa.
Poucos dias depois, nos dias 14 e 15 de janeiro, Manaus enfrentou o início de uma situação trágica em hospitais: o colapso provocado pela falta de oxigênio para pacientes internados com Covid-19.