Por Denise Assis, para o Jornalistas pela Democracia
O Diário Oficial da União circula nesta segunda-feira (24) com a notícia da reforma do general Eduardo Pazuello. Além da sua postura durante o depoimento da CPI, totalmente contra os princípios caros para o Exército Brasileiro de honradez e lisura – Pazuello mentiu 15 vezes, segundo as contas do relator, Renan Calheiros -, o general desrespeitou o regimento disciplinar, que proíbe esse tipo de manifestações aos militares da ativa. O ato, porém, sai com data retroativa à sexta-feira, (21/05), uma forma de livrá-lo da prisão, punição correspondente à infração.
Até às 16h deste domingo, quando teve início a reunião do Alto Comando, (parte presencial e parte virtualmente), a disposição era a de que ele recebesse voz de prisão. Quatro generais presentes queriam que assim fosse. Houve quem argumentasse que o gesto daria a impressão de que, ato contínuo, Bolsonaro estaria na alça de mira, correndo o risco de ser deposto. Deste modo, optou-se pela reforma retroativa, livrando ambos do vexame.
A medida traz um recado claro a Bolsonaro. O Exército Brasileiro não é de sua propriedade e não se curva aos seus rompantes golpistas. De hoje em diante, tanto ele quanto Pazuello, caminham no fio da navalha. Apesar de não haver motivos para termos esperanças de que ele seja retirado do cargo, a medida de reforma imediata de Pazuello, no calor dos acontecimentos, deixa claro que Bolsonaro sai fragilizado do episódio.
A ostentação de um exército “paralelo” pelas ruas do Rio, montado em Ducatis, Harley Davidson, BMW e outras marcas caras e famosas de motocicletas – muito fora dos padrões que policiais médios possam adquirir – foi outro ponto levado em conta na decisão do Alto Comando. Está ficando cada vez mais clara a disposição de Bolsonaro de se apoiar neste segmento intermediário para falar em atos de força. Em última instância, sua atitude afrontou as Forças Armadas.
Conforme anunciado em entrevista ao Grupo Prerrogativas, neste sábado, o presidente da CPI, Omar Aziz, pretende inquirir mais uma vez o agora general da reserva Pazuello.
Na condição de civil, sem o habeas corpus que garanta o seu direito de permanecer calado, é possível que o que os generais do Alto Comando evitaram, aconteça. Eduardo Pazuello pode sair do Senado com algemas no pulso, para pensar, na prisão, por que se omitiu em dar tratamento decente à população brasileira, deixando morrer 500 mil compatriotas aos quais jurou defender.