Influente no alto escalão do empresariado paulista, o ex-presidente da Fiesp, Horácio Lafer Piva, afirmou os "terremotos políticos" provocados diariamente pelos agentes do governo estão fazendo com que o mercado abandone definitivamente Jair Bolsonaro.
Confrontado, em entrevista ao jornal O Globo, com a tese de que o mercado "não se importa" com os ataques frequentes de Bolsonaro ao Congresso e ao Supremo Tribunal Federal (STF), Piva disse isso "está mudando".
"Acho que está mudando. Há terremotos políticos aparecendo — às vezes, até dois por dia —, seja por uma frase do presidente, do núcleo duro, dos ministros ou por movimentos do próprio Congresso. Além de tudo, tem uma questão dada pelas próprias eleições que temos pela frente", afirmou.
Acionista e membro do conselho de administração da fabricante de celulose e papel Klabin, o empresário mantém críticas ao que classifica como "fanatismo" tanto de Bolsonaro quanto de Lula, mas ressalta que o ex-presidente petista ainda não iniciou conversas com o empresariado.
"O empresariado, de uma maneira geral, pode até optar por um deles, mas luta por opções para alargar o seu leque de escolhas. É mais fácil para o presidente atual ter o apoio de alguns, por exemplo, um segmento da agroindústria, dos agricultores que já vinham com ele e alguns empresários muito bem definidos, que você sabe quem são e contamos nos dedos. Não é possível achar uma lista de empresários que estão apoiando Bolsonaro, e acho que o Lula ainda não começou a operar nisso", disse.
Com a velha lente da elite paulista - a mesma usada na disputa entre Guilherme Boulos (PSOL) e Bruno Covas (PSDB) no segundo turno das eleições à prefeitura de São Paulo -, Piva critica a "posição mais radical" para justificar sua posição contrária a um retorno de Lula à Presidência.
"Se a gente vai ficar só entre um candidato da dita esquerda, embora o Lula seja pragmático e não de esquerda, e de um candidato de direita como Bolsonaro, empobrece o discurso. Mas o Lula vem acompanhado de um PT que vai tentar puxá-lo para uma posição mais radical. A intolerância é herança do PT, e com Lula vem esse PT".
Piva aposta que "o governo Bolsonaro ainda vai se enfraquecer" e insiste na tese da chamada terceira via, de centro-direita, para uma disputa contra Lula no segundo turno em 2022.
"Eu não acredito muito em pesquisa feita 19 meses antes (da eleição). Na minha opinião, o governo Bolsonaro ainda vai se enfraquecer, e acho que ainda tem espaço para um candidato que não esteja em nenhuma das duas pontas", disse.