A fala elitista de Paulo Guedes, que reclamou do fato dos governos anteriores, através do Fundo de Financiamento Estudantil (Fies), terem dado bolsas em universidades "pra todo mundo", gerou a reação dos ex-ministros da Educação, Fernando Haddad e Tarso Genro, e também do ex-presidente Lula.
O ministro da Economia disse, em reunião com membros do governo e sem saber que estava sendo gravado, que o filho do seu porteiro foi beneficiado pelo Fies mesmo após zerar o vestibular. De acordo com ele, até quem não tinha a "menor capacidade" e "não sabia ler nem escrever" entrou na graduação por esse caminho.
"O porteiro do meu prédio, uma vez, virou para mim e falou assim: ‘Seu Paulo, eu estou muito preocupado’. O que houve? ‘Meu filho passou na universidade privada’. Ué, mas está triste por quê? ‘Ele tirou zero na prova. Tirou zero em todas as provas e eu recebi um negócio dizendo: parabéns, seu filho tirou…’ Aí tinha um espaço para preencher, colocava ‘zero’. Seu filho tirou zero. E acaba de se endereçar a nossa escola, estamos muito felizes", disparou Guedes.
Em resposta, Fernando Haddad, que comandou o Ministério da Educação entre 2005 e 2012, disse que o ministro de Bolsonaro quer que os filhos dos pobres sejam "condenados à ignorância". "Saúde e educação para poucos, esse é o seu ideal de mundo. Aos porteiros e seus filhos: vida longa e a porta da universidade aberta", escreveu o petista.
Já Tarso Genro, titular do MEC entre 2004 e 2005, diz que tem "honra" de, ao lado de Haddad e Lula, ser responsável "por este sacrilégio" apontado por Guedes.
Lula, por sua vez, compartilhou uma postagem do publicitário Ricardo Silvestre, filho de porteiro que acessou a universidade graças ao Fies. "Felizmente um dos filhos de porteiro e empregada doméstica sou eu, que pude estudar pela existência dos programas sociais do governo", escreveu Silveira, ao que o ex-presidente afirmou: "Por mais jovens como Ricardo e menos homens como Paulos Guedes".
A frase de Guedes sobre o Fies foi dita no mesmo encontro em que afirmou que o chinês “inventou” o novo coronavírus. Na mesma ocasião, ele criticou o aumento da expectativa de vida no Brasil.