A Polícia Federal desmarcou o depoimento de Guilherme Boulos (PSOL) no âmbito de um inquérito contra ele baseado na Lei de Segurança Nacional (LSN), uma herança da ditadura militar. Ele foi intimado, na última semana, por conta de uma postagem crítica a Jair Bolsonaro que foi interpretada como uma "ameaça" ao presidente.
Segundo a jornalista Mônica Bergamo, da Folha de S. Paulo, a PF desmarcou o depoimento do líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto por falta de salas disponíveis no prédio da instituição em Brasília por conta das medidas de restrição para conter o avanço do coronavírus.
Um detalhe que chama a atenção é que, assim que foi intimado, Boulos, através de sua defesa, pediu à PF para que o depoimento se desse de forma virtual, o que foi negado. Agora, com a informação da "falta de salas", o depoimento do político do PSOL não tem data marcada para acontecer.
Perseguição política
Com base na Lei de Segurança Nacional (LSN), um mecanismo criado na ditadura militar, Boulos se tornou alvo de uma investigação, a mando do Ministério da Justiça, por conta de um tuíte irônico feito há um ano que afirmava: “um lembrete para Bolsonaro: a dinastia de Luís XIV terminou na guilhotina”. A postagem era uma resposta a uma frase de Bolsonaro, que afirmou “eu sou a Constituição”, declaração alusiva à frase atribuída a Luís XIV, rei da França, no século 17: “O Estado sou eu”.
“Em vez do ministério da Justiça se preocupar em ir atrás das rachadinhas do [Fabrício] Queiroz, que estava agora essa semana fazendo de novo esquema com o governo do estado do Rio de Janeiro, em vez de ir atrás das rachadinhas e todos esses absurdos que estamos vendo dentro do próprio governo Bolsonaro, em vez de investigar o descaso em relação à pandemia, o boicote às medidas sanitárias e as vacinas, a gente tem um Ministério da Justiça que botou a Polícia Federal, dinheiro público, pra investigar um tuíte”, disse Boulos em reação à intimação.
Segundo o líder social, o inquérito da PF contra ele se trata de “intimidação” e “perseguição política”, visto que a LSN também vem sendo utilizada para processar e prender outros críticos ao governo.
“O Bolsonaro, não é segredo para ninguém, adora uma ditadura. O que ele quer é o pensamento único, sufocar todas as oposições, não ter ninguém que questione esse genocídio que ele está praticando no Brasil, e tenta aparelhar o estado brasileiro pra suas finalidades políticas”, declarou Boulos.
O psolista afirma, no entanto, que prestará depoimento na Polícia Federal e que o fato não o intimida. “Muito pelo contrário, isso só reforça nossa disposição de lutar contra esse governo que está matando gente”, afirmou.