O advogado Cristiano Zanin, integrante da equipe de defesa do ex-presidente Lula nos processos da Operação Lava Jato, afirmou neste sábado (20) que o material obtido através da Operação Spoofing comprova que a operação estava construindo um projeto de poder próprio, que passava pela condenação do ex-mandatário. Os arquivos trazem diálogos entre o ex-juiz Sergio Moro e procuradores do Ministério Público Federal de Curitiba, incluindo o ex-coordenador da operação, Deltan Dallagnol.
"A realidade nua e crua é impactante, verificar a forma como os procuradores e o então juiz Sergio Moro combinaram promover acusações contra o presidente Lula, como combinaram promover operações internacionais fora dos canais oficiais, como combinaram promover ataques contra os advogados do presidente Lula… Vimos ali, realmente, um mundo chocante em que aqueles membros da chamada Lava Jato viviam, não só pela aceitação e convivência com a ilegalidade, mas também pela forma como eles viam os inimigos e críticos da Lava Jato", disse o advogado em entrevista à jornalista Malu Delgado, do DW.
Segundo Zanin, esse conteúdo "mostra uma visão totalitária por parte destes membros da Justiça e mostra que eles queriam e estavam construindo um projeto de poder" e que no caso do ex-presidente, "eles construíram um 'projeto Lula', e descreveram as etapas que seriam cumpridas para alcançar os objetivos".
Outra observação que o advogado faz é sobre "diversas conversas em que os membros da Lava Jato interagiam com grupos políticos e agentes políticos com a expectativa de eleger determinados candidatos que tinham 'agenda compatível' com o que eles pensavam".
"Ou seja, os que tinham o poder de acusar, prender e julgar eram os mesmos que estavam atuando para impedir que algumas pessoas pudessem se candidatar, notadamente o presidente Lula. A Lava Jato envolveu, efetivamente, um projeto de poder e isso não é uma ilação. Está documentado no material que tivemos acesso", afirmou.
No julgamento da suspeição de Moro na Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal (STF), o ministro Gilmar Mendes também apontou a existência de um projeto de poder por parte do magistrado.
“O magistrado [Sergio Moro] gerenciava os efeitos da exposição midiática dos acusados. A opção por provocar e não esperar ser provado garantia que o juiz estivesse na dianteira de uma narrativa que culminaria na consagração de um verdadeiro projeto de poder que passava pela deslegitimação política do Partido dos Trabalhadores, em especial o ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva, a fim de afastá-lo do jogo eleitoral”, apontou Mendes durante seu voto.
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