Ex-preso político, Cid Benjamin “abomina” autorização para militares festejarem 31 de março

Vice-presidente da Associação Brasileira de Imprensa, o jornalista diz que não é preciso ter sido preso durante o regime militar para abominar ditaduras. “Vivemos efetivamente tempos espantosos”

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O jornalista e ex-preso político, Cid Benjamin, reagiu com indignação à decisão do Tribunal Regional Federal da 5ª Região, que autorizou as Forças Armadas a comemorarem o 31 de março. A data faz alusão à noite em que foi dado o golpe militar no Brasil.

“Estamos vivendo tempos inacreditáveis. Temos um presidente inimigo da ciência e contrário às vacinas, mesmo estando perto dos 300 mil mortos e podendo chegar a meio milhão ainda este ano”, destaca Cid, vice-presidente da Associação Brasileira de Imprensa (ABI).

“Enquanto isso, o Judiciário, que deveria ser um defensor do estado de direito, acoberta comemorações do aniversário do golpe militar que implantou uma ditadura responsável por torturas e mortes de opositores”, ressalta o jornalista.

Cid foi preso político durante a vigência do regime militar, mas ressalta: “Não é preciso ter vivido essa experiência para abominar as ditaduras. Abomino profundamente essa decisão do TRF da 5ª Região. E só me resta concluir: vivemos efetivamente tempos espantosos”, acrescenta.

Cid foi preso no 21 de abril de 1970. “Fiquei no DOI-Codi do Rio de Janeiro. Saí dois meses depois, trocado pelo embaixador alemão, Ehrenfried von Holleben, juntamente com mais 39 presos”, relembra.

Ação

O assunto “celebração” do 31 de março chegou à Justiça depois que a deputada federal Natália Bonavides (PT-RN) ingressou com uma ação para que o Ministério da Defesa retirasse de seu site conteúdo alusivo e comemorativo à data.

A juíza da 5ª Vara Federal do Rio Grande do Norte, Moniky Mayara Costa Fonseca, determinou, à época (em 2020), a retirada da publicação do site do Ministério da Defesa e declarou, em sua decisão, que o texto postado era “nitidamente incompatível com os valores democráticos insertos na Constituição de 1988”.

Porém, o Tribunal Regional Federal da 5ª Região autorizou, agora, que as Forças Armadas festejem a data, que marca um dos períodos mais trágicos da história do país.