Anielle Franco, irmã de Marielle Franco, foi às redes sociais na manhã deste domingo, 14 de março, quando se completam três anos do assassinato da vereadora do PSOL e de seu motorista, Anderson Gomes, indagar a mesma pergunta que vem sendo feita a 1.096 dias: Quem mandou matar Marielle e por quê?
"Quem mandou matar minha irmã!? Qual a motivação desse crime!? Três anos é muito tempo sem resposta. Mas pouco tempo pra defender sua memória e seu legado. Sigamos", escreveu Anielle, que está à frente do Instituto Marielle Franco, que programou um dia especial em memória da vereadora. Às 10h está programado um tuitaço com as hashtags #JustiçaPorMarielleEAnderson e #3anosSemRespostas.
Nesta sexta-feira (12), a vereadora Monica Benício (PSOL-RJ), viúva de Marielle, entrou justiça pedindo o bloqueio de bens (imóveis, carros e uma lancha) e uma indenização de R$ 1 milhão dos PMs, Élcio de Queiroz e Ronnie Lessa, que estão presos pela execução do crime. O advogado João Tancredo afirma que a ação não foi feita aos mandantes do crime, porque as provas ainda são insuficientes.
Na quinta-feira (11), a Casa Legisladora de Buenos Aires aprovou uma homenagem à vereadora, que ganhará um memorial no metrô de Buenos Aires com um placa onde estará escrito: “Em memória de Marielle Franco (1979-2018) Vereador do Rio de Janeiro, defensora dos Direitos Humanos e da comunidade LGBTQIA+, assassinada em 14 de março de 2018”.
Neste dia 14, Marielle será lembrada na Itália, onde dará nome ao terraço de uma biblioteca, e na Suíça, que terá mais um ato em sua memória. Também hoje, o Setorial de Mulheres do PSOL vai projetar um vídeo em 15 cidades sobre esses 36 meses sem justiça.
Fake news e discursos de ódio
No entanto, passados três anos do assassinato sem apontar os mandantes do crime, Marielle segue alvo de fake news e discursos de ódio e muitas pessoas ligadas a ela e seu mandato ainda recebem ameaças.
No início deste mês, a desembargadora Marilia de Castro Neves foi absolvida do crime de calúnia pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ). Ela ficou conhecida nacionalmente por espalhar informações falsas e ofensivas sobre Marielle poucos dias depois do assassinato da vereadora.
"A questão é que a tal Marielle não era apenas uma 'lutadora', ela estava engajada com bandidos. Foi eleita pelo Comando Vermelho e descumpriu 'compromissos' assumidos com seus apoiadores", escreveu falsamente a desembargadora do Tribunal de Justiça do Rio em uma rede social.
"Até hoje, a gente é marcada nas redes sociais quando as pessoas veem essas fakes news. Não é fácil ver as mentiras sobre minha irmã", disse Anielle Franco à BBC Brasil neste domingo (14).
Nas redes, a BBC mostra que os ataques com discursos de ódio focam a pauta em defesa dos direitos humanos, que sempre foi alvo do trabalho de Marielle.
Ao ganhar projeção, a própria Anielle passou a ser vítima de insultos na internet. Ela conta que é chamada de "oportunista", "irmã daquela feminista", "abortista", "maconheira".
"Claro que isso mexe com a nossa família. Sou mãe, fico triste com essas histórias mal contadas. Mas eles não vão conseguir. Marielle é um símbolo de resistência, e as fake news são muito pequenas perto dela", disse Marinete Silva, mãe da vereadora.
Ameças
O jornal O Estado de S.Paulo, também em sua edição deste domingo, lembra que muitas mulheres ligadas a Marielle ainda vivem sob ameaça.
O caso mais expressivo é o da deputada federal Talíria Petrone (PSOL-RJ), que teve que se mudar do Rio de Janeiro após ser informada pela Polícia Civil do Rio de que mais de cinco gravações planejando a sua morte haviam sido interceptadas.
“Não é só a questão de uma parlamentar executada; a não resolução do crime escracha o domínio da milícia. A milícia está dentro do Estado, elege parlamentares. Ela junta três esferas: política, econômica e braço armado. Não é exagero dizer que a milícia governa o Rio”, diz Talíria.
A deputada estadual Renata Souza (PSOL-RJ), ex-chefe de gabinete de Marielle na Câmara Municipal, também recebe ameaças recorrentes pelas redes sociais. No Facebook, um usuário disse que ela “falava demais” e iria “perder a linguinha”.
“As ameaças vêm em diferentes sentidos e fazem parte de uma política do ódio acrescida de uma insatisfação por estarmos ocupando esse lugar de poder. Esse é um aspecto muito característico dessas ameaças”, diz Renata, que também já teve endereço exposto nas redes por protestar contra Jair Bolsonaro.