Enquanto DEM se afasta, Doria pede que Congresso analise impeachment de Bolsonaro

Prestes a perder um aliado nas eleições de 2022, o governador flerta com a defesa do impedimento do presidente

Rodrigo Maia, João Doria e ACM Neto (Divulgação)
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Enquanto o Democratas de ACM Neto e de Rodrigo Maia - prestes a abandonar o partido - parece estar disposto a embarcar na candidatura à reeleição de Jair Bolsonaro em 2022 e deixar para trás o governador João Doria (PSDB), o tucano parece estar disposto a defender o impeachment do chefe do Executivo.

"A Câmara tem mais de 60 pedidos de impeachment contra o presidente Jair Bolsonaro por diferentes razões. Entendo apenas –como cidadão e não como governador– que cabe ao Congresso Nacional analisar aspectos que são importantes na obediência à Constituição", disse o governador ao jornalista Eduardo Simões, da agência Reuters, na quinta-feira (4).

“Mas não cabe a mim, como governador do Estado de São Paulo, fazer considerações a esse respeito. Espero sim que o Congresso tenha responsabilidade, tenha altivez, tenha independência e discuta todos os temas que são relevantes para o Brasil e para os brasileiros", completou.

A declaração foi dada em meio às especulações de um possível embarque do Democratas na candidatura è reeleição de Bolsonaro. Desde 1994, o DEM/PFL nunca integrou uma outra chapa presidencial que não fosse a encabeçada pelo PSDB. Em 2002, o partido não fez aliança no primeiro turno e apoiou os tucanos no segundo.

Nesta quinta-feira, Gustavo Franco, ex-presidente do Banco Central durante o governo FHC e ex-diretor do Instituto Millenium, avaliou que Arthur Lira (PP-AL) pode ser um espécie de Eduardo Cunha de Bolsonaro. Em entrevista à jornalista Carolina Freitas, do Valor Econômico, o chefe do Executivo "afastou o impeachment" à priori, mas ainda pode ter problemas.

"Resta ver como será a agenda de problemas, as pautas de costumes, o fim da Lava Jato, a blindagem da família Bolsonaro e a parceria entre o presidente e o deputado Artur Lira, cujas semelhanças com o deputado Eduardo Cunha, têm sido muito lembradas, inclusive quando se trata de sua lealdade contingente ao presidente da República", disse Franco.

Um novo pedido de impeachment foi apresentado nesta sexta-feira por profissionais de saúde, cientistas e pelo ex-presidente da Anvisa, Gonzalo Vecina Neto.

Em entrevista à Fórum, o líder da bancada do PT na Câmara, Enio Verri (PT-PR), concorda que a derrota de Baleia Rossi e a vitória do candidato de Bolsonaro para o comando da Mesa Diretora da Câmara “vai exigir mais esforço” da oposição pelo afastamento do chefe do Executivo e que isso “atrasa” o processo. O petista pondera, contudo, que a possibilidade de um processo de impeachment ser aberto “não está eliminada”.

“É importante destacar que a Câmara responde à pressão da sociedade. O debate não é se a Câmara que vai determinar o impeachment, é a sociedade cobrar de seus parlamentares a votação do impeachment. A última pesquisa apontava que 43% da população é favorável ao impeachment. Se isso chegar a 60%, por exemplo, mesmo que o presidente [da Câmara] não queira, a pressão social e do próprio parlamento fará com que o presidente faça a leitura”, analisa o líder.