Um dos membros do Conselho de Administração da Petrobras, o ex-desembargador federal Leonardo Antonelli, afirmou que a decisão do presidente Jair Bolsonaro em mudar o comando da Petrobras corre o risco de ser judicializada.
Em entrevista ao jornal O Globo, Antonelli disse ainda que outros órgãos regulares poderão intervir caso se confirme abuso de poder na decisão de Bolsonaro.
Na sexta-feira (19), o presidente demitiu Roberto Castello Branco do comando da estatal e nomeou o general da reserva Joaquim Silva e Luna para o cargo. O militar faria dois anos no cargo de diretor-geral da Itaipu no próximo dia 26.
"A mudança pode parar na Justiça. Mas essa não deveria ser a solução para o problema. Isso não atende o melhor interesse da companhia. Ademais, além do próprio Conselho de Administração, existem vários outros órgãos reguladores que poderão intervir, caso fique configurado o abuso do direito do controlador", afirma Antonelli.
"Eu disse ao presidente do Conselho de Administração (Eduardo Bacelllar) que o momento é de união dos conselheiros com o único objetivo de preservar a Petrobras e seus acionistas", completa.
Questionado sobre a legitimidade da mudança na presidência, o integrante do conselho diz que o Estatuto Social da Petrobras tenta preservar a empresa de danos em caso de mudanças na política de preços.
"Desde que fui eleito, pelos acionistas minoritários, conselheiro, tenho consignado nas atas de reunião do colegiado preocupações com a intervenção dos governos passados na política de preços. Os prejuízos ultrapassaram, segundo a companhia, US$ 50 bilhões. Para tentar por um fim nisso foi alterado o Estatuto Social, prevendo que se a companhia for orientada pela União a contribuir para o interesse público, ela deverá ser compensada dentro do próprio exercício social", disse.
O Conselho Conselho de Administração realizará uma reunião na terça-feira (23) para discutir a convocação de assembleia extraordinária para avaliar o nome de Joaquim Silva e Luna.
Política de preços
A troca no comando da Petrobras aconteceu depois de Bolsonaro criticar o aumento sucessivo nos combustíveis, em política comandada pela Petrobras. O titular do Planalto estava incomodado com a pressão popular por causa dessas altas. Neste ano, já foram anunciados quatro aumentos, o último na última quinta-feira (18).
Bolsonaro teme ainda que os caminhoneiros convoquem outra greve. Em 2018, então candidato à Presidência, ele apoiou o movimento, que prejudicou a economia. Mas agora não quer o mesmo sob seu governo e, por isso, acenou à categoria, anunciando que vai eliminar impostos federais sobre o diesel a partir de 1º de março.
Castello Branco era uma escolha do ministro da Economia, Paulo Guedes. Bem visto pelo mercado, tinha a missão de preparar a empresa para privatização.