Participação de agentes norte-americanos na Lava Jato provocou receio de crise diplomática

Os advogados do ex-presidente Lula afirmam que a análise dos diálogos da Operação Spoofing “reforça - e deixa inequívoca - a realização de cooperações internacionais fora dos canais oficiais”

Dilma e Obama - Foto: Roberto Stuckert Filho
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Novas conversas apreendidas na Operação Spoofing, encaminhadas ao Supremo Tribunal Federal (STF), revelam que a participação de agentes norte-americanos em ações de cooperação com a força-tarefa da Lava Jato, em Curitiba e em processos nos EUA, criou receios de que o fato pudesse provocar um abalo nas relações diplomáticas entre os dois países.

Os advogados do ex-presidente Lula afirmam que a análise dos diálogos “reforça - e deixa inequívoca - a realização de cooperações internacionais fora dos canais oficiais”, o que poderia levar à anulação de provas, de acordo com informações da coluna de Jamil Chade, no UOL.

O Ministério Público Federal do Paraná (MPF-PR) alegou que não reconhece a autenticidade das mensagens vazadas. “Quanto a missões de estrangeiros, é fato que sempre vieram ao Brasil diversas autoridades estrangeiras de variados países para a realização de diligências investigatórias. Todas as missões de autoridades estrangeiras no país são precedidas do respectivo pedido e autorização”, argumentou.

No dia 9 de outubro de 2015, a presença de investigadores norte-americanos no Paraná foi motivo de conversa por parte do então chefe da divisão internacional da Procuradoria-Geral da República (PGR), Vladimir Aras, primo do atual comandante da PGR, Augusto Aras.

A troca de informações entre procuradores brasileiros, norte-americanos e suíços foi intensa durante a Lava Jato. Em mensagem ao procurador Deltan Dallagnol, Aras fala sobre a situação: “Delta, Delta, como já conversamos, essa investigação dos americanos realmente me preocupa”, declarou ele.

“Fiquei tranquilo quando você garantiu que esse grupo de americanos não fez investigações em Curitiba quando esteve aí. Você sabe que eles têm poucas limitações para uso de provas lá. Mesmo as obtendo de maneira menos formal no exterior, eles podem usá-las válida e te em alguns casos”, acrescentou Aras.

“Daí o meu receio inicial, já que o MPF e a SCI [Secretaria de Cooperação Internacional] não podem permitir isso sob pena de gerar decisões contrárias ao auxílio direto e à autonomia do MPF nas medidas de cooperação internacional passiva e ativa”, insistiu.

“Como te disse na segunda, o MRE [Ministério das Relações Exteriores] mencionou até a possibilidade de ‘abalo nas relações bilaterais’”, alertou.

Soberania nacional

Naquele momento, Dilma Rousseff (PT) era presidenta e o Itamaraty era comandado pelo embaixador Mauro Vieira.

O estremecimento nas relações entre Brasil e EUA aconteceria se agentes do FBI estivessem colhendo provas no Brasil, o que seria uma violação da soberania nacional.

Em 2013, o governo de Dilma e a Petrobras já tinham sido alvos de escutas por parte da Agência de Segurança Nacional dos EUA (NSA), o que levou a um esfriamento das relações entre os dois governos. A presidenta chegou, inclusive, a cancelar uma viagem ao país norte-americano.

Em 2015, ano da “cooperação” de agentes norte-americanos com a Lava Jato, o Planalto começava uma reaproximação com o governo de Barack Obama.