Barroso permite que vice-presidente da Câmara se desfilie do PL após ingresso de Bolsonaro

Marcelo Ramos, vice-presidente da Câmara dos Deputados, chegou a defender o impeachment de Bolsonaro

Marcelo Ramos, vice-presidente da Câmara (Foto: Pablo Valadares/Câmara dos Deputados)
Escrito en POLÍTICA el

O vice-presidente da Câmara dos Deputados, Marcelo Ramos (PL-AM), conseguiu uma liminar no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que lhe garante o direito a se desfiliar do Partido Liberal (PL) sem perder o mandato de deputado. Ramos possui divergências profundas com o presidente Jair Bolsonaro (PL), que entrou na legenda no último mês.

O presidente do TSE, Luís Roberto Barroso, foi quem atendeu ao pleito de Ramos, que levou documentos que mostram que ele era persona non grata na legenda e sofria assédio de correligionários. Barroso está em regime de plantão e acolheu o pedido do deputado enquanto o relator do caso, Alexandre de Moraes, está de férias.

“O teor da carta é, ainda, coerente com a narrativa do autor, no sentido de que sua relação com o partido se desgastou após a filiação do Presidente da República ao PL, tal como ilustrado pelas declarações públicas de dirigentes locais a respeito da inadequação do requerente à nova configuração política do partido”, diz Barroso na decisão.

“Uma mudança substancial de rumo no partido pode afetar essa identidade. Se isso se der às vésperas de um ano eleitoral, o fato se torna mais grave, sendo que a demora na desfiliação pode causar ao futuro candidato dano irreparável”, disse o ministro, reconhecendo que a entrada de Bolsonaro mudou a linha política do PL.

Marcelo Ramos queria impeachment de Bolsonaro

Quando a ida de Bolsonaro para o PL ainda não havia sido oficializada, Ramos já sinalizava que não pretendia dividir palanque com o mandatário. “Eu não tenho como negar que é uma condição absolutamente incômoda para mim. Vou ter que esperar a confirmação disso para avaliar o que fazer. Eu também não tenho dúvida de que o presidente da República é mais importante para o partido do que um deputado federal do Amazonas, mas, por outro lado, não tenho dúvida de que o futuro do país é mais importante do que o projeto de qualquer partido”, disse Ramos, em novembro.

“O que está em jogo não é a minha reeleição, isso é muito menor do que termos um país capaz de superar a tragédia de 600 mil mortos, de 15 milhões de desempregados, de 20 milhões com fome, de 120 milhões com insegurança alimentar, de inflação a 10,5% projetada, de juros a longo prazo em 12%… não posso achar que um presidente desse é bom para o país. Não posso trocar a facilidade da minha eleição pelo desastre do país que escolhi como meu”, declarou Ramos.

Em 9 de setembro, dois dias após os atos golpistas do 7 de setembro, Ramos defendeu o impeachment de Bolsonaro durante entrevista ao Jornal da Fórum. “A nota do presidente Bolsonaro não pode apagar a irresponsabilidade dele até aqui, nem os crimes já cometidos. Ele não tem nenhuma condição de dar respostas à crise que ele criou”, declarou Ramos em entrevista ao jornalista Luís Costa Pinto.

Ele pregou a "unidade nacional pela democracia" e disse que estaria presente em atos a favor do impeachment. “Estamos em um momento igual aos da Diretas Já, da união dos democratas contra a barbárie”, disse.