O presidente Bolsonaro, mantendo firme a sua verve negacionista, declarou aos seus apoiadores, nesta sexta-feira (26), que controlar a entrada de estrangeiros ou fechar aeroportos é "loucura" e que isso não impede a chegada da nova variante.
O diálogo foi provocado por um de seus apoiadores que perguntou ao presidente se ele não mandaria fechar os aeroportos para conter uma nova onda do coronavírus.
"Está vindo uma outra onda de Covid […] não vai vedar, rapaz. Que loucura é essa? Fechou o aeroporto, o vírus não entra? Já está aqui dentro […] tem que aprender a conviver com o vírus", disse Bolsonaro.
Anvisa recomenda controle de voos
No entanto, a declaração de Bolsonaro vai de encontro à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que emitiu nota técnica recomendando que o governo adote medidas de restrição para passasgeiros oriundos de seis países da África: África do Sul, Botsuana, ESwatini (ex-Suazilândia), Lesoto, Namíbia e Zimbábue.
Os países indicados pela Anvisa são aqueles que registraram casos da nova variante do coronavírus.
Mundo entra em pânico e suspende voos após nova variante africana do Coronavírus
Uma nova variante da Covid-19 detectada na África do Sul está gerando pânico em várias regiões do mundo. Países da Europa, Oriente Médio e Ásia suspenderam voos oriundos do sul da África após a descoberta da cepa B.1.1.529, considerada com o maior número de mutações.
Até agora, foram confirmados 77 casos na Província de Gauteng, na África do Sul; 4 casos em Botsuana; 1 em Hong Kong (uma pessoa que voltou de uma viagem à África do Sul) e 1 em Israel (uma pessoa que voltou do Malaui).
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, afirmou no Twitter que irá propor que todos os países membros do bloco proíbam voos oriundos da África do Sul. Reino Unido, Alemanha, Itália, França, República Tcheca, Israel, Cingapura e Japão já anunciaram a medida.
A ministra do Turismo da África do Sul, Lindiwe Sisulu, divulgou comunicado no Twitter classificando como “decepcionantes” as restrições por parte do Reino Unido e afirmou que seu país continua “aberto para viagens de negócios e turismo”.
O que se sabe sobre a nova variante
Uma nova variante do Sars-Cov-2, o coronavírus responsável pela Covid-19, identificada na África do Sul e batizada como B.1.1.529, é a mais recente preocupação de virologistas e outros cientistas de todo o mundo. O motivo do alerta é o fato de a cepa ter 32 mutações em sua proteína spike, justamente a parte do patógeno sobre a qual são trabalhadas as vacinas, que impedem a entrada do vírus nas células e sua multiplicação.
O virologista brasileiro Túlio de Oliveira, que é diretor do laboratório Krisp, da Escola de Medicina Nelson Mandela, vinculada à Universidade Kwa-Zulu-Natal, que fica em Durban, na África do Sul, afirmou que a variante B.1.1.529 teria, potencialmente, uma transmissibilidade muito maior que cepas anteriores e que, pelo fato de ter tantas mutações em sua proteína spike, não se sabe se as vacinas atuais contra o Sars-Cov-2 seriam capazes de detê-la.
Joe Phaahla, ministro da Saúde da África do Sul, admitiu recentemente que a aparição dessa variante é vista como uma “grande ameaça” e que ela levaria a novas restrições sérias no país caso se espalhe com rapidez. Até agora, o número oficial de casos diagnosticado com a B.1.1.529 é 22, sendo a maior parte na África do Sul, embora a variante tenha sido encontrada também num paciente de Botswana e em Hong Kong (em um homem que acabara de chegar da África do Sul).
Autoridades médicas, científicas e sanitárias sul-africanas ficaram tão alarmadas com a B.1.1.529 que solicitaram a formação de um grupo de trabalhos com os especialistas da Organização Mundial da Saúde (OMS) para tratar do assunto. Ainda que o clima seja de preocupação, não existe uma resposta objetiva e clara se essa nova mutação seria combatida com as vacinas atualmente existentes no mercado.