Pré-candidato à presidência em 2022, o ex-juiz Sergio Moro (Podemos) decidiu responder à entrevista que o ex-presidente Lula (PT) deu ao jornal espanhol El Pais e que foi capa da edição deste domingo. Cínico, Moro, que foi ministro do governo de extrema-direita de Jair Bolsonaro e usou e abusou de mecanismos jurídicos de perseguição criados pela ditadura militar, acusou Lula de "flertar com o autoritarismo".
Lula comentou sobre a candidatura do ex-ministro ao ser questionado pelas jornalistas Pepa Bueno e Lucía Abellán, do El País. "Não estou preocupado [com a candidatura]. É ele que precisa ficar preocupado. Sem a proteção da toga de juiz e sem a proteção do Código Penal, [Moro] será candidato como eu, como cidadão comum. E, nesse caso, é muito mais fácil", afirmou o ex-presidente.
Moro ficou incomodado com o comentário e usou as redes para atacar o ex-presidente com correlações sem muito sentido. "Antes, o PT elogiou as eleições na Nicarágua, onde os opositores foram presos. Agora, é o Lula quem minimiza a repressão contra protestos na ditadura cubana e critica os Estados Unidos, uma democracia. Não dá para flertar com o autoritarismo", disse Moro em seu perfil no Twitter.
O comentário chama a atenção tendo em vista que Moro já deu várias mostras de flertar com o autoritarismo. Além de Moro ter sido ministro de Bolsonaro e prender Lula para que ele não concorresse nas eleições de 2018, o ex-juiz defendeu projeto que previa excludente de ilicitude em operações policiais (uma licença para matar) e perseguiu adversários de Bolsonaro com a Lei de Segurança Nacional (LSN), herança da ditadura militar.
Moro abusou da Lei de Segurança Nacional
No governo Jair Bolsonaro houve uma explosão de processos abertos com base na LSN no Brasil. Esse aumento começou já sob a gestão de Moro e se aprofundou na do ex-ministro André Mendonça, que pleiteia uma vaga no Supremo Tribunal Federal (STF). O número de processos de 2019 - 26 - superou de longe o dos anos anteriores. Entre 2000 e 2018 foram 103, uma média de menos de 6 ao ano.
Lula, inclusive, foi um dos alvos do ministro Moro com a LSN após chamar Bolsonaro de miliciano. Apesar de Moro negar diante de repercussão negativa do caso, a defesa do ex-presidente reafirmou que a convocação do petista à Polícia Federal em fevereiro de 2020 foi sim com base na lei dos tempos repressivos.
Segundo o advogado Carlos Alberto de Almeida Castro, o Kakay, Moro teria recorrido mais 100 vezes à LSN para perseguir opositores pessoais e do governo em processos que correm em segredo de justiça. A revelação foi feita em live do Grupo Prerrogativas, em agosto de 2020.