Os planos de Jair Bolsonaro e Paulo Guedes de privatizar a Petrobras podem estar por trás da viagem do presidente e do ministro da Economia a Dubai, nos Emirados Árabes, neste último final de semana. A possibilidade foi aventada por Cesar Fonseca, do site Pátria Latina.
Segundo Fonseca, o objetivo de Bolsonaro seria negociar a venda da Petrobras junto ao fundo árabe Mubadala, que no início do ano comprou a Refinaria Landulpho Alves (Rlam), na Bahia, por um valor muito menor do que a empresa realmente vale. Ao entregar mais fatias da petroleira aos árabes, Bolsonaro colocaria como condição que os preços dos combustíveis fossem reduzidos para o consumidor e, assim, ele se livraria de um "problema" e impulsionaria seus planos de reeleição.
À Fórum, Tadeu Porto, que é diretor da Federação Única dos Petroleiros (FUP) e do Sindicato dos Petroleiros do Norte Fluminense (Sindipetro-NF), afirmou que a possibilidade aventada na análise de Fonseca é real.
"O Guedes está com um discurso de renovar os petrodólares e já tem um tempo que Bolsonaro fala em privatizar a Petrobras. E me parece que se confirma cada vez mais que é uma agenda do governo. A Mubadala já comprou a Rlam, está em processo de tomada, e pode ser que os árabes se interessem, de fato, em se expandir geopoliticamente pegando mais ativos do Brasil", avalia o dirigente petroleiro.
"Não nos surpreende. A gente está com essa agenda de possível privatização no radar para poder combater", completa. A FUP, conforme anunciado pela Fórum, vem discutindo a possibilidade de greve caso o governo Bolsonaro avance em seus planos de vender a Petrobras.
Petrodólares
Principal responsável pela política de paridade internacional, que elevou o preço dos combustíveis ao maior patamar da história, e pregando aos quatro cantos a privatização da Petrobras, o ministro da Economia, Paulo Guedes, disse neste domingo (14) que foi a Dubai, nos Emirados Árabes, em busca dos “petrodólares”.
“Aqui estão os petrodólares. Nós fizemos um grande movimento no final da década de 80, depois do choque do petróleo, para pegar essa reciclagem de recursos. Só que, naquela época, foi com endividamento. Nós fizemos uma expansão da infraestrutura com base em dívida. Agora nós vamos fazer com participação nos programas de investimento nossos, nas nossas parcerias de investimentos“, disse Guedes, sinalizando que vai incluir os árabes no esquema de venda fatiada do setor petrolífero estatal brasileiro.
O ministro, no entanto, se esquivou de comentar o preço dos combustíveis. Guedes afirmou ainda que “os juros vão subir um pouco para combater a inflação” – o que deve aumentar a crise econômica – ao ressaltar que “o crescimento está contratado”.
“Preço do petróleo é assunto do Ministério de Minas e Energia, taxa de juros é assunto do Banco Central. Eu tenho cá minhas expectativas, mas não comento”, disse o posto Ipiranga de Bolsonaro nos assuntos econômicos.
"Ficar livre da Petrobras"
Em entrevista no último dia 8, Bolsonaro culpou a companhia estatal pelo alto valor dos combustíveis e disse que, para ele, o ideal seria “ficar livre” da Petrobras.
“Para mim, o ideal é você ficar livre da Petrobras. Logicamente, privar para muitas empresas. Não pode tirar de uma monopólio estatal e colocar em um monopólio privado, tem que fatiar isso daí”, afirmou.
O presidente ainda voltou a fazer uma defesa confusa da tese já refutada sobre a incidência do ICMS que, segundo ele, é o que encarece os combustíveis – e não a política de paridade internacional do preço do petróleo adotada pela Petrobras no governo golpista de Michel Temer (MDB) e mantida por ele.
Por fim, ainda criiticou a divisão dos lucros da empresa, uma das grandes fontes de receita da União para projetos nas áreas da saúde, da educação e socioculturais.
“Pode melhorar na Petrobras? Pode até porque os dividendos, no meu entender, são um absurdo. R$ 31 bilhões em três meses, eu não quero a parte da União tendo esse lucro fantástico”, disse, ignorando o lucro dos acionistas.