Durante transmissão ao vivo realizada nesta quinta-feira (28), o presidente Jair Bolsonaro deu a entender que pode promover uma mudança na política de preços da Petrobras, principal causadora da alta nos combustíveis. Com a declaração, o mandatário parece fugir da retórica falsa de culpar os impostos estaduais pelo aumento da gasolina, do diesel e do gás de cozinha, e enfrentar um problema que tem sido denunciado há anos pela Federação Única dos Petroleiros (FUP).
"Estamos tentando aqui buscar maneiras de mudar a lei. Não é justo um país praticamente autossuficiente em petróleo ter o preço do combustível atrelado ao dólar. É coisa que vem de anos", disse Bolsonaro durante live, sugerindo uma possível mudança de rumos na Petrobras.
Política de preços faz combustíveis disparar
Adotada pela diretoria da Petrobras após o golpe que derrubou Dilma Rousseff e mantida pelo governo de Jair Bolsonaro, a política de preço de paridade de importação (PPI) é apontada como a principal responsável pela disparada dos combustíveis em níveis muito acima da inflação.
Somente neste ano, já aconteceram 12 aumentos na gasolina, 13 no diesel e 8 no GLP diretamente nas refinarias. Segundo o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), nos últimos cinco anos (outubro de 2016 a outubro de 2021), as altas nas refinarias foram de 107,7% para a gasolina, 92,1% para o diesel e de impressionantes 287,9% para o gás de cozinha. Nos postos de combustível, a alta acumulada da gasolina em cinco anos é de 74,%; do diesel, 68,2%; e do gás de cozinha, de 84,2%.
O Dieese aponta que com valores corrigidos pela inflação (IPCA/IBGE), o botijão de 13kg de gás de cozinha custava em média R$ 69,21 no Brasil, em outubro de 2016. O litro da gasolina era vendido a R$ 4,58 e o do diesel a R$ 3,76. Na semana passada, a média de revenda do botijão foi para R$ 101,96 (subiu 47% acima da inflação em cinco anos), o litro da gasolina alcançou R$ 6,36 (alta de 39%) e o do diesel R$ 4,98 (alta de 32%).
Enquanto os combustíveis saltaram, o salário mínimo não teve ganho real. Pelo contrário, variou abaixo da inflação, em 25%.
FUP reage
Para Deyvid Bacelar, coordenador-geral da FUP, "enquanto o PPI não mudar, os preços dos combustíveis continuarão a subir e a inflação a explodir, gerando pobreza". A FUP, que pretende mobilizar uma greve nacional caso Bolsonaro dê sequência a uma proposta de privatização da estatal, denuncia a política de preços desde a adoção.
“A FUP foi a primeira a denunciar a política de Preço de Paridade de Importação (PPI), quando em 2016 a Petrobrás adotou tal mecanismos de forma abrupta e equivocada. E continuará a denunciar as barbaridades dessa política que penaliza os mais pobres e aumenta as desigualdades sociais", disse à Fórum.
"O PPI, usado injustamente para reajustes, se baseia nas cotações internacionais do petróleo, na variação do dólar e nos custos de importação, sem levar em conta que o Brasil produz internamente cerca de 90% do petróleo que consome", destacou.
"O PPI deveria estar morto e enterrado desde que nasceu. Esta política tem função única de garantir lucros recordes para a Petrobrás e ganhos abusivos para os acionistas, sobretudo os estrangeiros”, completou Bacelar.